Existem muitas pessoas que optam por encontrar profissionais do sexo pelas ruas, casas noturnas, e não apenas em plataformas destinadas para isso. E, claro, não é difícil encontrar esses profissionais em pontos específicos, principalmente em cidades de maior movimentação. Mas você sabia que existe um bairro brasileiro voltado exclusivamente para profissionais do sexo? Trata-se do Jardim Itatinga, localizado na cidade de Campinas, em São Paulo.
Criado em 1966 pelo poder público, em plena ditadura militar, o bairro é considerado uma das maiores áreas de prostituição da América Latina. Mas, afinal, por que esse bairro para fins tão específicos foi criado? Simples: na tentativa de isolar as profissionais do sexo dos moradores, a fim de não “ameaçar a ordem” na cidade de Campinas.
Embora a justificativa para a criação do bairro tenha um forte cunho preconceituoso, vale a pena conhecer mais detalhes desse local curioso, único e, sem dúvidas, carregado de histórias.
O Jardim Itatinga gira em torno dos profissionais de sexo
Quando dizemos que o bairro foi criado e planejado para essa parcela da população (quem trabalha e vive do sexo), não estamos exagerando. Lá, tudo remete a esses profissionais. Há, inclusive, lojas especializadas para atender exclusivamente à acompanhantes.
No bairro, os serviços sexuais são oferecidos todos os dias da semana, 24 horas por dia. Há, basicamente, duas formas de trabalho desempenhadas por esses profissionais: alguns abordam diretamente os clientes nos carros, nas ruas, e outros frequentam casas noturnas.
Embora praticamente tudo no Jardim Itatinga remeta aos profissionais do sexo, não é apenas isso que encontramos por lá. Acontece que nem todos que moram no bairro vivem da profissão. Para se ter uma ideia, ao caminhar pela região é comum encontrar, nas portas das residências que não têm ligação com o mercado sexual, placas de sinalização com mensagens do tipo “casa de família”.
Na região também se encontram estabelecimentos comuns a qualquer bairro, como postos de saúde, escolas de educação infantil e até algumas ONGs que desempenham importantes serviços sociais para a população. Além disso, a prefeitura de Campinas também já destacou que oferece a mesma estrutura que é destinada ao restante da cidade – e que não há nenhum tipo de segregação por parte da administração pública.
O bairro é local de referência de acolhimento aos profissionais do sexo, mas ainda é alvo de preconceito
Jardim Itatinga recebe centenas de profissionais de outras regiões do Brasil, principalmente os iniciantes no ramo. Um dos principais motivos é o sigilo proporcionado pelo local. Afinal, escondidas nas casas especializadas, os profissionais podem manter em segredo seu ofício.
Mesmo assim, apesar da consolidação do bairro e do sigilo que o local reservado oferece, o preconceito ainda é enfrentado pela maioria dos profissionais. Acontece que a sociedade, como um todo, não tem interesse em acolher e entender os profissionais do sexo como qualquer outro tipo de profissional. Por isso a classe ainda é marginalizada, mesmo que um local tão específico para o seu trabalho.
Só para você ter uma ideia, a criação do bairro Jardim Itatinga ampliou a divisão territorial de Campinas nos aspectos socioeconômicos. Na região norte é onde estão os terrenos mais valorizados, os condomínios e shoppings, e na região sul, mais próxima do bairro, é onde se situam a maioria das ocupações informais, favelas e loteamentos populares.
A própria criação do bairro, em si, já teve seu alicerce pautado no preconceito – afinal, era preciso “separar mulheres puras das impuras”. É claro que isso contribuiria para a marginalização, tanto do local quanto dos moradores e frequentadores do bairro. Reflexo de uma sociedade, ainda, moralista e extremamente preconceituosa.
Por isso, conhecer um pouco da história do Jardim Itatinga é uma forma de entender como os profissionais do sexo de Campinas e do Brasil eram, e ainda são, tratados com o passar dos anos – principalmente os mais marginalizados.
Veja: um bairro de quase 60 anos, criado com a finalidade de segregar pessoas, ainda resiste (ao tempo, ao preconceito e aos riscos), abrigando a vida profissional e pessoal de inúmeros acompanhantes.