O Gempac (Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará) foi fundado em 1990 pela ativista dos Direitos Humanos e das Mulheres, Lourdes Barreto (hoje, com 80 anos). De 1994 a 2010, em parceria com o governo federal e a Unesco, o grupo teve atuação em âmbito estadual, tornando-se referência na região amazônica.
Sua atuação presta total apoio às prostitutas de Belém do Pará, levando informação e ajuda para superar preconceitos, reduzir a discriminação da profissão e valorizar a identidade de todos os trabalhadores sexuais. E não é só isso.
O Gempac também desenvolve ações de enfrentamento e combate à exploração sexual de crianças e adolescentes, assim como ao tráfico de seres humanos. Dá para ter uma ideia do quão importante é o trabalho desenvolvido por esse grupo, não é mesmo?
O protagonismo de Lourdes Barreto na luta pelos profissionais do sexo
Ciente das inúmeras carências e demandas das profissionais do sexo de Belém, Lourdes Barreto (que também trabalhou como acompanhante) se inspirou na própria história para prestar ajuda às pessoas que vivem do trabalho sexual. A ativista sofreu os mais variados tipos de violência – e isso a ajuda, até hoje, a mudar a vida de inúmeras mulheres.
Aos 14 anos, ainda virgem, Lourdes foi estuprada pelo tio e resolveu fugir de casa. Nas ruas da Paraíba, sofreu cotidianamente a violência policial, agravada pelo fato de ser mulher e não poder atuar em sua profissão. Hoje, esse tipo de violência, mesmo que ainda exista, é menos frequente em função do “movimento de putas” – como ela mesma denomina – iniciado por ela e tantas outras no Brasil.
Fundadora do Gempac, ela participou em 1987 do primeiro encontro que deu início às organizações em defesa das prostitutas, o “Fala mulher da vida”. Lourdes é reconhecida ainda pelo protagonismo na luta contra o HIV/Aids e hepatites virais no Brasil.
O ativismo do Gempac é vasto
O apoio prestado pelo Gempac no Pará abrange diversos setores que envolvem a profissão de acompanhante. Para se ter uma ideia, o grupo presta até mesmo consultorias jurídicas para os casos em que é necessário.
Conforme aborda o próprio grupo, as mulheres cis e trans que vivem do trabalho sexual sofrem grave violência de gênero e diversas violações, como abusos e criminalização. Logo, esses profissionais acabam se distanciando das dimensões políticas e de reconhecimento (desconhecendo seus próprios direitos). Por isso são necessárias ações práticas na área jurídica, além do empoderamento da categoria.
O grupo acredita que levar informação para os profissionais é uma das principais formas de prevenir situações de violência, desrespeito e discriminação. Por esse motivo, realizam diversas oficias sobre gênero, feminismo e trabalho sexual – além de articular e divulgar toda a experiência nas mídias sociais para garantir maior alcance.
Um exemplo que deveria repercutir em todo o país
Que excelente iniciativa de Lourdes e de todos os envolvidos na criação e manutenção do Gempac no estado do Pará, não é mesmo? Apoio é o que a classe dos profissionais do sexo mais precisa na sociedade. Essa é umas das formas mais eficazes de combater o estigma, o preconceito e, principalmente, a violência sofrida por diversos acompanhantes Brasil afora.
Infelizmente, pessoas que prestam esse trabalho e fazem a diferença na vida dos acompanhantes ainda são raros – e não são todos que têm a possibilidade de contar com essa ajuda (que, muitas vezes, pode salvar vidas). Por isso, esse tipo de trabalho precisa ser reconhecido, incentivado e, principalmente, precisa ser repercutido.
Em um país tão vasto e diversificado com o Brasil, quanto mais grupos de apoio aos profissionais do sexo, mais dignidade e segurança a categoria encontrará.