Este não será um texto bonito nem confortável de se ler, já aviso. Mas é necessário. Eu sempre procuro trazer pra vocês assuntos que considero pertinentes não só à minha profissão de acompanhante, mas que são necessários à sociedade como um todo, coisas que precisam ser faladas, e sem sempre são ditas, não porque não acontecem, mas por ficarem escondidas, ignoradas, por não ser dada a devida importância pelo fato de ser uma espécie de “ibope” dado a coisas negativas, e tudo que é negativo temos que ignorar e não falar sobre, assim não vai nos atingir, mas é justamente o contrário, hoje eu vim falar e te mostrar sobre a violência verbal que sofremos.
A geração do cancelamento
Segundo o site Agência de Notícias CEUB, “Quando alguém diz ou faz algo polêmico ou comete um erro, a internet acaba maximizando o impacto daquilo. É assim que ocorre o cancelamento, linchamento ou boicote, que acontece após falas ou ações que desagradam comunidades virtuais”. Ou seja, se você simplesmente ir contra a norma social, contra o considerado moralmente aceitável pelas massas, você corre o risco de sofrer ataques virtuais e às vezes até pessoalmente, simplesmente por ir contra o pensamento da maioria. Haverão casos que as pessoas realmente falam absurdos, como racismo, homofobia, mas também há situações que as pessoas apenas por discordarem de alguém, se veem no direito de atacar.
Quando o cancelamento vira violência?
Pra que você possa entender o ponto em que uma discordância de ponto de vista vira violência, resolvi trazer alguns comentários recebidos por colegas acompanhantes, são falas que infelizmente a maioria de nós ouve, e nem sempre são profissionais do sexo, basta serem mulheres. A seguir você vai ler comentários enviados para acompanhantes, de “clientes” que entram em contato apenas para… nem eles sabem para que:
“Me falaram que eu tenho a bunda costurada (estrias), dentes tortos, e que eu não deveria cobrar porque não valho tudo isso”.
Débora, Acompanhante.
“Pago 1 real a hora e quero 20 reais de troco”
Lucimara Costa, Acompanhante.
“Se não pode me atender desativa o anúncio e vá ch*par uma r*la com IST.”
Acompanhante anônima.
“Gorda desse jeito não vale nem 50”
Myllena Alencar, acompanhante.
“Esse valor é porque você é Virgem?”
Mariana Reis, Acompanhante
“Você vale 50 pila, p*ta é p*ta”
Ana Clara, acompanhante
“Deve ser o orgulho da família hem, continua assim que homem nenhum vai te querer”
“O mundo tá na fossa mesmo por ter p*ta falando em mídia, vocês são imorais e sem caráter”
Paula Assunção, acompanhante.
Achou difícil de ler? Pense em ler isso TODOS OS DIAS. Pessoas definindo quanto valemos, como se o que tivesse preço fosse nosso corpo e não nosso serviço, entenda: não vendemos parte alguma do nosso corpo, tampouco o alugamos como alguns dizem, o que tem preço e é vendido é um serviço onde o corpo é usado apenas como instrumento.
Não queremos aplausos, queremos respeito
Parece que falar de respeito à nossa profissão já ficou defasado, de tanto que essa tecla é batida, mas se precisamos falar tanto disso é porque há motivo. Ninguém precisa concordar com nosso trabalho, aplaudir, dizer que acha bonito, muito menos virar acompanhante, mas respeitar a escolha do outro é um dever de todos. Ter respeito seletivo só por pessoas que vivem a vida de acordo com o que você acha certo ou errado, é a maior forma de violência que eu conheço, ignorar outras realidades, marginalizar pessoas e profissões, é algo que adoece.
Porque continuar numa profissão tão difícil?
“Mas falando disso na internet tu esperava o que?”
“Se quer vender o corpo aceita que coisa boa não vira”.
São frases que já ouvi. A sociedade ensinou que a profissional do sexo precisa aceitar toda forma de violência e preconceito porque está incluso no pacote, não há opção de exercer esse trabalho e querer não passar por isso, e quem achar ruim o que está passando, que mude de profissão e não reclame mais. Ou seja: vai ser sempre assim, até que todas as pessoas que trabalham com sexo se sintam tão oprimidas e violentadas até que larguem a profissão, quando em contrapartida, a mesma pessoa que foi na rede social ofender e violentar uma acompanhante, no seu privado tenta contratá-la.
A solução disso tudo seria muito simples: Cada um cuidar da sua vida.