Acho importante começar este tema comentando sobre minha experiência, pois meu marketing pessoal ocorreu de uma maneira muito natural.
Me tornei acompanhante em 2002, sem tantas informações ou acesso fácil ao assunto. Era um tema pouco abordado na sociedade, inclusive na mídia e quando acontecia, gerava um debate cheio de preconceitos. Digo que na minha época, a prostituição era um mundo secreto, era mais fácil fazer parte dele por indicação de alguma conhecida que já se prostituísse e ajudasse a orientar como dar os primeiros passos.
Não foi o meu caso, pois não conhecia nenhuma acompanhante, nunca tinha sequer tido contato com a história de alguma. Me joguei neste mundão com a cara e coragem após ser influenciada por anúncios em um jornal que não existe mais, era conhecido como “amarelinho” que apenas divulgava vagas de empregos em diferentes áreas. Resolvi arriscar na aérea que mais me interessou: ser acompanhante.
Eu tinha tudo para dar errado. Era extremamente tímida, com pouquíssima experiência sexual, aliás, nunca tinha feito sexo com algum homem que não conhecia, havia perdido a virgindade há menos de um ano com meu primeiro namorado.
E perdida na vida aos 17 anos, saindo de uma adolescência conturbada, minhas únicas certezas eram: o fato de não querer mais morar com meus pais e me tornar acompanhante para conquistar minha independência.
Comecei trabalhando em casa privé, um nome bonito para prostíbulo ou cabaré. Com cafetão e lidando com a convivência com outras acompanhantes que eram concorrentes diretas, pois disputávamos os clientes que chegavam em busca de um momento de prazer.
Logo no primeiro dia, decidi que não queria ser apenas mais uma. Não fazia ideia como conseguiria isso, mas logo comecei a pensar em um bom marketing pessoal para ter meu diferencial e bater minha meta financeira.
Eu tinha mais de dez concorrentes diretamente e, em um privé, a garota se apresenta individualmente ao cliente, então cada uma que lutasse com as próprias armas para conquistar aqueles homens.
Porém, existia uma regra entre nós: não podíamos tocar nos clientes nem exibir nosso corpo totalmente nu. Era seduzir sem nos exibir. Simples assim. Ou não tão simples.
No início, minha estratégia de conquista era olhar profundamente nos olhos do cliente enquanto me apresentava. Aproveitava para dizer minha idade, algo que nenhuma dizia, então usava disso a meu favor: “Oi, eu sou a Bruna, tenho 18 aninhos…” (comecei com 17 anos, mas a pedido da gerente do local, menti até realmente completar a maioridade). Já instigava o suficiente apenas com esta frase. Menos é mais.
Algumas meninas sentavam para conversar com o cliente e conquistá-los com um bom papo, mas além de eu não ter paciência para isso, preferia ser a mulher misteriosa. Falava o básico e já saia de perto. Muitos clientes comentaram que ficaram curiosos para conhecer melhor esta garota misteriosa que sempre habitou dentro de mim.
Um dia cansei desta frase de apresentação e resolvi mudar. Pensei como se eu fosse um homem sentado ali, querendo sexo e putaria, o que eu gostaria de ouvir. Meu pensamento foi rápido e surgiu a ideia de dizer: “Oi, eu sou a Bruna e faço o que você quiser!”. Apenas. Direta e reta. No primeiro dia que comecei a me apresentar assim, já percebi que fez sucesso. E usei esta frase por toda minha fase na prostituição.
Depois de um ano e meio, resolvi me aventurar no flat. Já tinha clientes fixos que sempre iam atrás de mim, mas não era uma quantidade suficiente para conseguir pagar todos meus boletos mensais.
Precisei pensar em uma nova estratégia de marketing para conquistar uma nova clientela. Foi nesta época que nasceu meu blog, que criei de uma maneira despretensiosa, mas logo se transformou numa boa ferramenta de trabalho.
Relatava todos os programas do dia, e aproveitava para instigar meus leitores e futuros clientes contando de uma maneira sutil o que eu gostava de fazer. Deixava claro que amava fazer sexo oral e anal.
Era uma época que não havia meios de comunicação eficientes, a única mídia social era o Orkut e não existia WhatsApp, as pessoas se comunicavam por MSN, mas não era eficaz para as acompanhantes. Então as únicas maneiras para fechar atendimentos com clientes eram por SMS ou telefone. Contando esse fato hoje, me sinto como se tivesse vivido nos tempos dos astecas.
Eu queria muito ter tido oportunidade de poder contar com mídias sociais e meios de comunicação atuais na minha época, mas eu tenho orgulho de ter sido acompanhante raiz, em uma época que internet era mato.
O formato do meu blog não faria mais tanto sucesso atualmente. Se eu não tivesse me aposentado em 2005, precisaria ter atualizado minha estratégia de marketing.
Reconheço que fiz muito sucesso durante os três anos que fui acompanhante, eu soube conquistar os clientes que quis, fazendo que me procurassem outras vezes e também soube afastar os clientes que não queria ver novamente nem se estivessem pintados de ouro.
Resolvi compartilhar minhas armas para conquistar clientes durante os atendimentos:
1 – A primeira impressão é a que fica e o primeiro contato é extremamente importante.
Pessoalmente é mais fácil: eu usava o olhar, o mistério e uma frase provocante. Mas quando o primeiro contato era por telefone, sempre considerei importante ser simpática e atenciosa, respondia todas as dúvidas e aproveitava para deixar claro sobre as coisas que não tolerava durante meu atendimento.
2 – O combinado não sai caro.
A acompanhante não é obrigada a fazer nada que não queira, mas sempre deixei claro quais eram as minhas condições antes de encontrar com o cliente para não criar expectativas nele.
Nos dias que eu não estava com vontade de fazer sexo anal, logo avisava por telefone, mesmo quando não perguntavam. Preferia perder clientes durante o agendamento do atendimento, mas sabendo que fui sincera e que poderiam voltar a me procurar em outra oportunidade.
3 – Saber seus pontos fortes
Sempre destaquei quais são meus dons sexuais, o que eu mais gostava de fazer.
Demonstrar o quanto gostava de algo em específico, despertava a vontade dos clientes que curtiam o mesmo.
4 – Cuidado com a experiência do cliente
Eu sempre mimava os clientes durante os atendimentos para se sentirem especiais. No flat, eu sempre tinha água (de copinhos de plástico, assim me poupava de lavar copos), algumas opções de refrigerante em lata, cerveja, uísque e vodca.
E logo que chegavam, eu já oferecia. Nem todos aceitavam algo, mas ficavam surpresos com minha atitude. A maioria me dizia que nunca tinha visto isso, que muitas acompanhantes não ofereciam nem água de torneira.
5 – O ambiente também importa
O ambiente limpo e a preocupação com higiene também chamavam muita atenção dos meus clientes. Eu usava a estratégia de fazer com que se sentissem em casa.
As toalhas de banho eram lavadas em lavanderia e entregues em embalagem plástica individual. Mostrava então que a toalha estava realmente limpa e não estava sendo reutilizada.
Assim como outros cuidados, por exemplo: trocava a roupa de cama na frente deles e o sabonete para banho era sempre líquido.
6 – Variedade de camisinhas e produtos eróticos.
Sempre tive este cuidado de ter sempre opções de camisinha, inclusive conseguia identificar qual o tamanho adequado para cada cliente.
Tinha dildos em diferentes tamanhos para todos os gostos para quando atendesse um cliente que me queria como “Bruno”.
E produtos eróticos como géis com diversas funções: para sexo oral com sabor, gel que esquenta ou esfria, calcinha comestível, etc. São apetrechos que valem o investimento.
7 – Gostar de sexo é importante para ter sucesso.
Isso parece que é uma dica óbvia, mas não é.
Eles podem não conseguir diferenciar orgasmos falsos dos verdadeiros, mas sabem muito bem quando a mulher gosta de fazer sexo realmente ou quando fingem gostar, tornando o sexo mecânico demais.
Não gostar tanto de sexo é comum, mas além dificultar como acompanhante lida com o sexo por dinheiro apenas, espanta o cliente. Da mesma maneira, nós também não gostamos de atender um homem duro, robô, sem atitude.
Eu sei o quanto é difícil de lidar com certos clientes, mas nestes casos, eu entrava na personagem e buscava alguma maneira de gostar do cliente para o tempo passar mais rápido.
Minha única exceção era com cliente macho escroto, daí eu fazia a mínima questão de me tornar a melhor acompanhante na cama para ele naquele momento, até mesmo porque não queria que voltasse a me procurar depois.
8 – A propaganda é a alma de qualquer negócio.
Como comentei, meu blog não seria sucesso hoje, mas eu usaria e abusaria do Instagram. Seria meu principal meio de divulgação.
Publicaria fotos diariamente, sempre com uma legenda interessante e ousada, um mini conto erótico ou até mesmo resumiria com relatos curtos sobre os clientes que atendi durante o dia.
Deixaria o perfil aberto para que todos tivessem acesso sem que precisassem me seguir, afinal sabemos que a maioria é comprometido e não podem ter uma acompanhante publicamente na lista de quem segue.
Como no Instagram, é proibido mostrar nu total, então colocaria no perfil o link do site onde pudessem conferir minhas fotos nuas e mais picantes.
9 – Seu nome é sua marca.
Um nome de guerra marcante e fácil de se tornar inesquecível foi muito importante para mim.
10 – Fidelização de Clientes
Quando eu gostava do cliente, o instigava durante a despedida, o provocando para que quisesse me encontrar novamente. E antes dele ir embora, eu dizia alguma frase deixando claro o quanto tinha gostado de estar com ele.
Dez atitudes simples, mas que fizeram muita diferença em meus atendimentos e me ajudaram a fidelizar tantos clientes.
Aviso: As opiniões apresentadas no texto representam o ponto de vista da colunista e não expressam, direta ou indiretamente, as opiniões do Fatal Model.
Sobre a autora
Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha, é escritora e ex-acompanhante. Desde maio de 2023, escreve contos duas vezes por mês para a Fatal Blog.
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