Aviso: As opiniões apresentadas no texto representam o ponto de vista da colunista e não expressam, direta ou indiretamente, as opiniões da Fatal Model.
Desde o primeiro dia que iniciei a carreira de acompanhante, levantei minha bandeira a favor de todas minhas colegas de profissão. Curiosa que sou, perguntei e ouvi com atenção a história de cada uma sobre como decidiram estar ali, se prostituindo.
Logo de cara enxerguei o lado humano delas, de mulheres guerreiras e corajosas. Para algumas, era a única opção de sobrevivência, para outras, era uma escolha dentre tantas que poderiam ter.
Cada uma sabe onde o calo aperta e é dona muito mais do que do próprio corpo, mas de si.
Nunca tive vergonha de contar qual era minha profissão, mesmo antes de começar a aparecer na mídia e se tornar algo notório, para mim já funcionava como um filtro maravilhoso, afinal continuava na minha vida quem respeitasse meu trabalho. Simples assim.
Até que em 2019, fui convidada para participar de um debate em um programa de TV muito conhecido num canal fechado. Dentre as convidadas, eu era a única a favor da regulamentação das profissionais do sexo. As outras eram totalmente contra e o debate foi justamente isso: eu contra três.
O que mais mexeu comigo foi o argumento que a regulamentação desfavorece as acompanhantes que trabalham em condições opostas às consideradas de luxo, ou seja, mulheres que trabalham em boates e nas ruas.
Como é uma realidade que presenciei pouco, apenas na época que trabalhei no “vintão” por poucos dias, então levei em consideração e concordei com as defesas que estavam na ponta das línguas delas.
Sempre me considerei feminista e a favor da regulamentação da prostituição, e diante de outras três mulheres, com argumentos tão fortes contra, eu mudei de ideia.
A gravação acabou e fui embora convencida de que continuaria levantando a bandeira pelas acompanhantes, mas não seria mais a favor da regulamentação, respeitando a realidade que elas me apresentaram.
Corta para julho deste ano. Participei do evento da Fatal Model em homenagem ao Dia da Acompanhante, onde conheci pessoas muito especiais que lutam pela mesma causa.
Foi um prazer ter conhecido e sentido de perto a luta da Carol Bonomi (cientista política, feminista, educadora social e pesquisadora), da Monique Prada (escritora, autora do livro ‘Putafeminista’, ativista e trabalhadora sexual) e da Frida Carla (vou copiar a descrição linda que ela colocou na bio no perfil do Instagram: “A advogada que buscou a norma, mas se encontrou na transgressão”).
Três mulheres maravilhosas que não me fizeram mudar de opinião, mas que me fizeram retornar à qual sempre acreditei e lutei por dezessete anos até me permitir ser influenciada por feministas radicais.
Tiro tantas lições disso tudo, ainda que algumas mulheres por vezes tentem mudar minha visão.
Agradeço demais a Fatal Model pela oportunidade de conhecer Carol, Monique e Frida, mulheres que levarei para vida toda com Nina, Paula Assunção e Morena Lovateli, estas que eu já conhecia.
Minha luta continua firme e forte com a bandeira levantadíssima por todo nosso movimento e acolhimento que temos da Fatal Model!
E que a nossa sociedade enxergue e respeite cada vez mais todas as acompanhantes que existem entre nós!!!
Sobre a autora
Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha, é escritora e ex-acompanhante. Desde maio de 2023, escreve contos duas vezes por mês para o Fatal Blog.
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