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E se eu voltasse a ser puta

E se eu voltasse a ser puta

Foto de Redação josef.santos

Redação josef.santos

3 minutos de leitura

Para quem me acompanha há algum tempo, não deve ser surpresa que a sexualidade e, mais especificamente, o trabalho sexual sejam assuntos onipresentes nas minhas produções literárias e ensaísticas. No entanto, se você me conhece desde os famigerados tempos do blog E se eu fosse puta (que, em 2016, foi transformado em livro de mesmo nome, hoo editora), é capaz que tenha ficado com a sensação de que encaretei de lá para cá… seja porque aceitei, com a ascensão bolsonarista e o espírito de apreensão que tomou conta do Brasil, mudar o título do meu livro para E se eu fosse puRa na segunda edição (hoo editora, 2018), seja porque de lá para cá tenho sido cada vez mais discreta na abordagem dessa temática que me fascina.

Se parecia, porém, que eu encaretei, espero apagar essa desconfiança agora, com a coluna que passo a assinar quinzenalmente na plataforma de acompanhantes Fatal Model. Sim, esse é um convite pra vocês passarem a frequentar (se já não frequentavam) um site de acompanhantes. Se preferirem, podem fechar os olhos nas partes pecaminosas e seguir direto para a seção de colunistas, mas não vou contar pra ninguém se vocês derem uma olhadinha sem compromisso pelo site todo, conhecendo mais de perto o funcionamento desse mundo dos anúncios. O convite tem como propósito contribuir para que o trabalho sexual deixe de ser tabu, pois a consequência direta da proibição de debates em torno dele é jogarmos toda uma categoria de trabalhadores e trabalhadoras pra debaixo do tapete.

Importante dizer que não estou aqui como porta-voz da Fatal Model ou como alguém que vá vestir a camisa da empresa. Eu propus a coluna à plataforma por acreditar que não haveria espaço mais adequado do que este para semelhantes reflexões e espero, dessa forma, colaborar para que o tabu que pesa sobre tal profissão, assim como sobre a sexualidade humana em geral, vá se desmanchando e nos conduzindo a uma época em que estejamos mais à vontade com corpos e desejos, sejam eles alheios ou nossos.

E engana-se quem achou que eu tinha simplesmente parado de trabalhar com sexo nos últimos anos. Jamais. Trabalho que conheci de maneira inesperada cerca de duas décadas atrás, muito antes da minha transição, quando aceitei participar de um filme pornô com minha namorada travesti (“só pro público europeu, não vai chegar no Brasil”, ela dizia e eis algo que nos primeiros anos do sXXI ainda era possível acreditar… no final das contas, acabou não chegando mesmo, mas não por esse motivo e sim por minha performance ter sido catastrófica — o nervosismo de uma marinheira de primeira viagem pesou). Pois bem, se com pouco mais de dezoito eu já, por curiosidade, tinha me descoberto no meio, não esperem que um dia eu vá simplesmente abrir mão do prazer de estar ali.

Posso não escancarar o que tenho feito, mas sigo bastante presente, só que atuando mais nos bastidores e nas redes sociais agora: venho aprendendo a produzir conteúdo erótico de forma autônoma (às vezes até participando das produções com amigas, mas de máscara) e tenho estudado o gerenciamento de contas 18+, pensando sobretudo em questões de divulgação, p.ex. como manter um feed atrativo e efetivo, como não ficar refém das plataformas (podem derrubar a sua conta e você ficar sem um canal apropriado de divulgação e venda), como criar o “gostinho de quero mais” (essencial para que assinem plataformas ou comprem o conteúdo produzido pela trabalhadora), como receber pagamentos de maneira segura de clientes gringos, etc. 

Casou também que, junto com essa estreia da minha coluna, vai rolar o relançamento do meu livrinho absurdo. Uma edição toda mudada produzida agora pela editora n-1, com capa nova e bem provocativa e texto revisto, atualizado para debates que estou fazendo hoje. O lançamento oficial vai acontecer no Rio de Janeiro no dia 07 de setembro, num evento babadeiro no Palco Lapa de Indianarae Siqueira, com direito a Puta Desfile da Independência e mesa com gente super foda. Depois teremos lançamento em São Paulo, na Biblioteca Mário de Andrade, no dia 14 de setembro, também na melhor das companhias. Mais detalhes, corram lá nas minhas redes e vai ter tudo bonitinho, ok?

Ou seja, os tempos de putafeminismo discreto acabaram. Bora tocar fogo nesse debate e botar a expressão “trabalho sexual” na boca do povo. Tão comigo?

Aviso: As opiniões apresentadas no texto representa o ponto de vista da colunista e não expressam, direta ou indiretamente, as opiniões da Fatal Model.

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