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Não-merecimento: a crença que prejudica o trabalho de acompanhante

Não-merecimento: a crença que prejudica o trabalho de acompanhante

Foto de Redação josef.santos

Redação josef.santos

3 minutos de leitura

Por muitos aniversários ouvi as frases “você é uma lutadora, vai alcançar o sucesso” ou “você é uma guerreira como a sua mãe”. Após passar a entender algumas questões de falsas crenças, passei a me incomodar com esse sentimento de ter que ser guerreira e lutadora.

Vou trazer as memórias da minha mãe para essa conversa, pois essas duas palavras foram as características que eu mais ouvia sobre ela. Por um tempo eu sentia orgulho disso, por um tempo que ficou lá atrás, não mais e vou explicar o motivo pelo qual ninguém deveria se sentir um guerreiro na vida.

A crença da luta e sofrimento enraizada na cultura e educação

A gente traz no nosso DNA um histórico de sofrimento dos nossos ancestrais, que por muito tempo tiveram que lutar por sobrevivência. A história da escravidão e da busca das mulheres por posições sociais e morais igualitárias aos homens prova que a luta foi um recurso constantemente usado pela humanidade e que ainda é atualmente.

O entendimento ideológico de que para fazer parte de uma sociedade é necessário se encaixar, pertencer e merecer esse lugar nos causa muitas frustrações. Normalizaram que para merecer algo bom precisa passar por todo um processo cansativo e desgastante.

A infância costuma ser o primeiro momento que esse sentimento vai se impregnar no nosso cérebro, pois é comum que se ouça dos pais ou familiares o quanto somos insuficientes. 

Criou-se uma regra em algum momento na história da educação, que para um pai ou uma mãe ter sucesso como tal, precisa esculhambar seus filhos para que eles entendam que “nada vem fácil”. Logo, conseguir um elogio de algo que fizemos bem era raríssimo ou no máximo escutávamos: “esse era o mínimo que você deveria fazer” ou ainda “não fez mais do que a sua obrigação”.

Infelizmente, muitos pais aprenderam que autoridade e respeito se ganha na humilhação dos seus próprios filhos, uma crença bem errada, diga-se de passagem, e por esse motivo, crescemos com a crença do não-merecimento de que nada vem fácil e a gente precisa lutar e sofrer muito para conseguir algo bom na vida. 

É compreensível que para muitos deles e dos nossos avós e bisavós, essa era uma realidade vivida em suas épocas. Imagina ter que fugir do seu próprio país para não passar fome, não morrer em guerras ou ser escravizado. 

No entanto, isso não significa que precisamos carregar toda essa dor e sofrimento para as nossas vidas atuais, mas apenas exercermos o sentimento de gratidão por não precisar ter passado por tudo isso. 

O sentimento de não-merecimento ao escolher ser acompanhante

Se por um lado temos a falsa crença de que nada vem fácil na vida e por outro temos o estigma da profissão de que essa é uma vida fácil, juntos a gente tem a receita para o combo: exclusão social x não-merecimento que resulta, quando não tratado, em: ansiedade e depressão. 

Ao escolher a profissão de acompanhante como saída financeira para um momento crítico da vida, resgata-se, inconscientemente, a crença de que não fomos bons o suficiente para estar em lugares melhores, do ponto de vista social.

A consequência emocional é que a pessoa com esse sentimento se submete a situações extremas sem pensar, porque acredita que merece passar por um castigo ao ter optado por essa “vida fácil”, pois era assim que ocorria na infância, uma punição por não ser boa o suficiente. 

Como reconfigurar suas crenças e ter uma verdadeira vida fácil 

No livro Mindset: a nova psicologia do sucesso da professora de psicologia Carol Dweck, ela explica que “acreditar que as suas qualidades são imutáveis – mindset fixo – cria a necessidade constante de provar o seu valor”. Vale recordar que esse comportamento era o que fazíamos na infância para agradar à família ou alguém que amamos. 

Ninguém deveria provar o seu valor ou deveria ter dificuldades para entender esse valor próprio. Fazendo um gancho aqui com o momento que decidimos trabalhar como acompanhantes, muitas pessoas iniciam com um cachê muito baixo ou não aumenta no decorrer das suas experiências profissionais porque não se vê como alguém que mereça algo melhor. 

Então ao invés de pensar: “quanto mereço ganhar para ter uma vida confortável?”, no automático pensamos: “quanto eu preciso ganhar para pagar as contas”. 

Esse padrão de pensamento pode ser mudado com um novo mindset, que significa ao pé da letra: configuração da mente. Para mudar isso, é importante reservar um tempo para estudar sobre autoconhecimento ou, quando puder, procurar um profissional que ajude nessa tarefa. 

É possível sair do pensamento automático e ver que a vida não precisa ser sofrida, que não precisa se desgastar em horas e horas de trabalho sem folgas, não precisa de sacrifícios o tempo todo. O merecimento é um lugar que qualquer pessoa deveria exercer, inclusive, nós profissionais do sexo. 

Aviso: As opiniões apresentadas no texto representam o ponto de vista da colunista e não expressam, direta ou indiretamente, as opiniões da Fatal Model.

Sobre a autora

Nina Sag é acompanhante, colunista e porta-voz da Fata Model, cria conteúdo sobre suas experiências no mercado adulto desde que entrou há mais de cinco anos.

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