Na escola onde estudei o ensino fundamental, no Bandeirantes, tive aula de educação sexual durante a oitava série quando todos os adolescentes já estavam explodindo hormônios e querendo iniciar a vida sexual. E nestas aulas tive lições sobre a importância de me prevenir para não contrair nenhuma doença sexualmente transmissível. Naquela época, aos 15 anos, ainda virgem, nem passava por minha cabeça que me tornaria acompanhante em algum momento da vida. Mas já tive toda orientação necessária que, com meus pais jamais teria, afinal sexo era tabu e um assunto proibido em casa.
Foi quando aprendi que existem outras doenças sem cura além do HIV, como o HPV (que inclusive pode causar câncer no colo do útero), Sífilis e Hepatite C.
Lições da Adolescência
Antes de ter todas as orientações na escola, já tinha preocupações para não me contaminar com doenças quando iniciasse minha vida sexual. Já havia lido o livro ‘Depois daquela viagem’ que é a biografia de uma adolescente que contraiu HIV na primeira relação sexual, ao perder a virgindade. Então entendi a importância de me proteger, aliás, aprendi a colocar camisinha em uma banana! Cena inesquecível.
Na época da prostituição, uma das perguntas que mais me fizeram foi: “Você não tem medo de pegar doenças?”. Tendo uma vida sexual intensa com vários parceiros diferentes, ficamos mais vulneráveis, mas isso acaba nos tornando mais responsáveis. Eu sempre digo que uma acompanhante se cuida muito mais do que se pode imaginar, mais do que mulheres que não trabalham com serviços sexuais.
Tive poucos clientes que pediram sexo sem camisinha, mas que foram obrigados a usar, mesmo que a justificativa fosse que não conseguem gozar ou porque tem alergia ao látex. Usei algumas vezes camisinha feminina, mas com muito receio mesmo tendo consciência que havia colocado da maneira correta.
Lições da vida profissional
Depois de um tempo fazendo programas, decidi que eu mesma colocaria a camisinha em todos os clientes por confiar muito mais da maneira que aprendi na banana. Tomei essa decisão porque notei que nem todos os homens colocam corretamente, muitos sequer deixam o espaço na ponta para o gozo ficar armazenado. Um dos meus clientes teve a audácia de colocar do lado contrário ao que desenrola com facilidade, além de errado, muito mais difícil, fiquei apenas observando e me segurei para não rir.
Em todos estes casos, pedi para trocar a camisinha e fazia questão de dizer que ele havia colocado de qualquer jeito, mas para amenizar este climão, eu colocava outra camisinha com a boca. Aprendi esta técnica com uma colega do privê e praticava em alguns casos especiais.
Se você ainda não sabe, vou te ensinar, é bem fácil: posicione a camisinha na boca no lado certo para desenrolar. Encoste na cabeça do pau e faça um movimento devagar com os lábios empurrando com eles a camisinha até o fim. Já pode aproveitar para fazer oral em seguida. Para não correr o risco de dar errado na hora H, eu treinei antes esta técnica num vibrador até me sentir segura para colocar num pau de verdade. Lições e tanto!
Para uma saúde sexual em dia
Além desse cuidado com o uso da camisinha, também sempre tive outros cuidados necessários:
- quando fazia anal e o cliente não gozava e queria voltar pro vaginal, sempre trocava a camisinha para evitar infecção.
- ia ao ginecologista a cada dois meses para um check-up.
- fazia um check-up geral a cada seis meses, incluindo exame de sangue para ter certeza que estava limpa de DST’s.
- respeitava o limite do meu corpo para não me machucar. Tenho o útero baixo então acontecia de durante uma relação sexual sentir desconforto ou até mesmo dor, principalmente quando o pênis era muito grande. Optava por posições que não me agredissem tanto.
No final das contas, os acompanhantes, independente do gênero, se protegem e se cuidam muito mais do que pessoas que trabalham em outras profissões.
Sobre a autora
Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha, é escritora e ex-acompanhante. Desde maio de 2023, escreve contos duas vezes por mês para o Fatal Blog.
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