Se você é uma mulher de 50 anos ou quase e tem vontade de se tornar uma acompanhante de sucesso, esse texto é para você. Se você é uma mulher de 50 anos ou quase, não deseja se tornar uma acompanhante de sucesso, mas vive ou deseja viver essa fase da vida plenamente, inclusive usufruindo lindamente da sua sexualidade e do prazer que isso pode lhe proporcionar, esse texto também é pra você. Se você é uma mulher de 50 anos ou quase e está ansiosa para saber tudo o que essa nova fase tem para te proporcionar, estamos juntas: eu também ainda estou aprendendo.
Como mulheres, desde cedo somos condicionadas a temer o envelhecimento como a pior catástrofe que pode nos acontecer. Muitas páginas masculinistas apregoam que mulheres de 30 anos, ou mesmo 25, são velhas e indesejáveis. E até aí, tudo bem: se fossem apenas as páginas masculinistas a disseminar essas ideias, estaríamos quase tranquilas, poderíamos dizer que é um grupo isolado apenas. Mas o fato é que toda a sociedade nos cobra isso, e todo o tempo.
Reflexões sobre identidade e profissão
Madonna é julgada por manter uma rotina de exercícios e shows por vezes extenuante (que sim, a levou a adoecer), ao mesmo tempo em que cada pequeno sinal de envelhecimento serve para assanhar a mídia com ataques mil. Exalta-se o “envelhecer com dignidade” de Fernanda Montenegro sem explicar que dignidade seria essa: Fernanda aparentemente não recorre a plásticas ou tratamentos rejuvenescedores, e é bela assim, fato. Mas é justamente essa beleza a que não teria espaço nas prateleiras do mercado de amor e sexo.
Essa questão sobre envelhecimento me toca há muito tempo. Eu ingressei no trabalho sexual aos 19 anos, mas aos 22 já atuava nos bastidores como secretária de algumas acompanhantes, e assim fiquei por muitos anos: eu era apenas uma voz ao telefone – se podia intuir que eu era uma mulher bonita e interessante, mas nunca confirmar. Minha idade, aspecto ou forma física não eram uma questão.
Mais tarde, depois de uma série de reviravoltas na vida, já casada com um professor universitário, precisei voltar à atividade de acompanhante por questões financeiras nossas. Com carinha e corpinho de vinte e poucos, mas já passada dos 35 e precisando desesperadamente esconder este número, lá estava eu. Voltar a exercer a profissão de acompanhante naquele momento foi algo bastante frustrante, mas não chegava a ser algo tão aterrorizante pois a ideia era de que fosse algo temporário: dedicação total para resolver a vida financeira em poucos meses e na sequência, abriríamos uma pet shop virtual.
O poder da aceitação e empoderamento
No entanto, as coisas foram se atrapalhando mais e mais e o que era para ser passageiro estava se tornando eterno. No meio disso, comecei a me conhecer melhor e pensar questões sobre o trabalho que estava exercendo, sobre feminismo, comecei a jogar minhas opiniões no Twitter, aprofundar os textos no meu blog. Isso despertou a atenção de outros blogueiros e jornalistas: que coisa curiosa, uma puta com opinião rs.
Comecei a dar entrevistas, ainda mentindo a idade – e me sentindo ridícula demais por isso. Até que vieram as perguntas, sempre de jornalistas mulheres, sobre a “data de validade” de uma acompanhante. Essa pergunta, direcionada a mim, falava muito também sobre elas: até que idade uma mulher pode ser considerada atraente o suficiente para os homens?
Jornalistas homens não me faziam essa pergunta – ou por delicadeza, ou por terem mais intimidade com o mercado do sexo (onde se pode atuar sempre, independente de idade). O fato é que essa não é uma questão para os homens, sempre livres no exercício de sua sexualidade e sofrendo pressões infinitamente menores quanto ao envelhecimento, principalmente depois do Viagra.
Caminhos para a felicidade aos 50 anos e além
Mas para nós, isso continua sendo uma questão pesada, e é uma questão que me atingiu em cheio ano passado, ao completar 50 anos. Confesso que já vinha tensa há meses, alguns projetos (e a remuneração vinda deles) acabando e eu percebendo a possibilidade de voltar a ser acompanhante full time cada vez mais real. Foi preciso me empoderar desse corpo (e de seu reflexo no espelho) para entender essa ideia como uma possibilidade divertida e rentável como tem sido. E confirmar: o espaço para as mulheres de 50 atuarem como acompanhantes é grande, somos muito bem aceitas e podemos ser muito felizes por aqui também!
Cada idade tem sua beleza, e estou aqui curtindo as belezas e delícias deste momento. Sou uma acompanhante de sucesso, sim. É o que quero aos 50 anos.
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