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Camisinha é a melhor amiga das acompanhantes – mas não a única

Camisinha é a melhor amiga das acompanhantes – mas não a única

Foto de Redação josef.santos

Redação josef.santos

2 minutos de leitura

Se você adolesceu no final dos anos 80, como é o meu caso, ainda lembra do Chacrinha cantando “bota camisinha, bota meu amor, hoje tá chovendo, não vai fazer calor” ou algo parecido, em pleno Carnaval. Se o clima era quente, o medo da AIDS dava uma esfriada na liberdade sexual no mundo todo. Ápice da primeira epidemia de HIV no mundo, muitas celebridades adoecendo e perdendo suas vidas e ainda se engatinhando em termos de tratamento e prevenção. Preservativo virou item obrigatório: ou era isso, ou não se fazia sexo.

As trabalhadoras sexuais, junto com a população LGBTQIA+ (à época, a sigla era menor), foram pioneiras na prevenção, rapidamente se engajando em campanhas e atuando como multiplicadoras dos saberes e novos hábitos. Anos depois, quando decidi fazer parte deste grande mercado dos amores de aluguel, o hábito do uso do preservativo já estava perfeitamente incorporado no meio, ainda que volta e meia um ou outro cliente se atravesse a propostas indecentes como dispensar seu uso. Propostas obviamente recusadas, pelo menos por mim.

Pula pra 2014, Copa do Mundo no Brasil. Estava atendendo em São Paulo direto naquele ano, e foi quando aconteceu. Meu primeiro acidente com uma camisinha rompida. Entrei em pânico total, queria desistir de tudo, liguei pra um amigo pra desabafar e foi aí que ele me apresentou uma grande amiga: a PEP, profilaxia pós-exposição, um tratamento que consiste em, após testagem, 28 dias de medicamentos que visam não permitir a infecção por HIV em teu organismo. Foram algumas horas de espera por atendimento no Hospital Emilio Ribas, e eu estaria segura. Como ninguém tinha me falado disso antes?

Esse primeiro acidente coincidiu com minha aproximação mais oficial do movimento de prostitutas, e na sequência, mais conhecimento sobre prevenção, participação em formações pelo Ministério da Saúde, engajamento maior nessas questões tão importantes para nosso grupo. Anos depois, chega ao Brasil a PREP: tive a honra de fazer parte do pequeno comitê de ativistas que acompanhou sua implantação, acompanhar as reuniões em Brasília, entender o que era essa tecnologia tão revolucionária e no que ela impactava em nossa saúde. Tornei-me usuária há cerca de um ano.

Diferente da PEP, a PREP é uma profilaxia de uso pré-exposição a risco. Ela independe de um acidente: você a usa diariamente, de modo a estar já protegida caso a camisinha rompa. Há ainda alguma resistência sobre seu uso, mas eu considero bastante prática e mesmo usando preservativo em todas as relações, me sinto mais segura com ela.

Esses dois tipos de tratamento formam, então, junto com a camisinha, o que chamamos de estratégia de prevenção combinada, e é vital que mais e mais pessoas tenham acesso a elas para que finalmente a meta de erradicar o HIV seja atingida.

E é essencial não abandonarmos aquela que foi nossa primeira grande amiga, a camisinha. Afinal de contas, profissional de respeito cuida com carinho e responsabilidade de seu equipamento de trabalho!

Leia mais da nossa colunista Monique Prada:

https://fatalprod.josef.com.br/blogcolunistas/acompanhante-aos-50-anos/

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