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Pagar por sexo como alternativa à solidão dos dias

Pagar por sexo como alternativa à solidão dos dias

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Redação josef.santos

2 minutos de leitura

Nós falamos muito, muito mesmo, sobre as pessoas que exercem o trabalho sexual. Sobretudo sobre as mulheres que exercem o trabalho sexual: há uma curiosidade permanente sobre os motivos que levam uma mulher a entrar neste meio. Normalmente, as pessoas de fora do meio – e isso muitas vezes inclui nossos próprios clientes – têm uma visão bastante distorcida sobre isso, que passa inevitavelmente por uma série de fantasias e estereótipos.

Mas o fato é que essa relação tem dois lados, e um deles quase sempre é ignorado: quem é o homem que contrata este tipo de serviço? Quando não ignorado, a percepção sobre ele também é cercada de estereótipos: o homem violento, abusador, misógino. Não importa a realidade, o imaginário sobre essas pessoas é rico e fortemente alimentado por uma perspectiva conservadora, que insiste em ignorar (ou esconder) quem realmente seriam esses homens.

Pagar por prazer em busca de conexão

Há umas duas semanas, organizando minha pequena biblioteca, encontrei um livro que chegou para mim há alguns anos: “Pagando por Sexo”, de Chester Brown. O livro, em quadrinhos, é autobiográfico e conta como o autor, após a sua separação, encontra nas relações com trabalhadoras sexuais um modo autêntico e honesto de se relacionar com mulheres, um modo que dispensa o amor romântico mas não o respeito, companheirismo e amizade, um modo onde a relação de apoio financeiro é também tratada de modo direto e franco.

A partir do relato de Chester, e de acompanhar clientes de prostituição ao longo de tantos anos, consegui desfazer a minha percepção juvenil e preconceituosa acerca dos homens que nos contratam. É interessante como nos colocam esses homens como seres exóticos, pervertidos, como se efetivamente pagar por sexo fosse um grande pecado, apenas menor do que o de cobrar por ele. No mundo das pessoas que exercem atividades convencionais e, em tese, condenam o trabalho sexual, a ideia que se tem é a de que o cliente é um ser depravado, que surge do nada e desaparece minutos após o programa. No entanto, esses homens – assim como nós – estão em todos os lugares, e contratam esses serviços por uma série de motivos diversos, desde amenizar a solidão até realizar desejos ocultos, muitas vezes bastante simples.

Desmistificando

Como diz Indianarae Siqueira, ativista histórica pelos direitos das prostitutas: esses homens são os pais, tios, avôs, irmãos “de vocês”. Meus também. Nada de novo no front: a prostituição, junto com o casamento, é uma das instituições mais sólidas desta sociedade – apenas seguimos evitando que ela seja vista à luz do dia. Quando a sociedade consegue enxergar o homem que paga por sexo como o que ele é – um homem comum – percebe que o tipo de relação que proporcionamos é quase um antídoto para a solidão, segurando um pouco as neuroses do cotidiano.

Leia mais da nossa colunista Monique Prada:

https://fatalprod.josef.com.br/blogcolunistas/conteudo-adulto-e-o-debate-sobre-rotulos/

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