O trabalho sexual se baseia em atender pessoas, e pessoas não são apenas corpos prontos para sentirem prazer, são também mentes muitas vezes aflitas buscando no sexo uma válvula de escape, um aconchego ou mesmo um ouvido atento. Nós, acompanhantes, sabemos muito bem disso, independente de se preferirmos uma abordagem mais voltada somente ao sexo ou não; todos sabemos que existe também um outro lado, não é à toa que já escrevi por aqui que muitos nos confundem com psicólogas.
Dos muitos atendimentos que já fiz ao longo de quase cinco anos de profissão, alguns foram marcados por clientes que deixaram claro desde o começo que não era sexo o que procuravam. No início, eu ficava curiosa do porquê chamarem alguém que presta serviço sexual para apenas conversar, mas depois entendi que o prazer de um desabafo pode ser maior que o de um orgasmo.
Houve alguns clientes que me procuraram devido a um luto recente, enviuvaram e não tinham mais repertório social para conhecer pessoas e me procuraram querendo dicas; e ao contrário do que você talvez esteja pensando, não eram dicas sexuais, mas de abordagem social. Houve até mesmo um que me contratou para ajudar na criação de um perfil em aplicativo de relacionamento.
As pessoas buscam sentir algo além do prazer num atendimento; claro que alguns casos são menos complexos, mas recentemente, por exemplo, um cliente casado e traído buscava a sensação de equilíbrio na relação (ou vingança, se preferir chamar assim), chegou a mostrar minha foto para a esposa para causar um certo ciúme, que segundo ele, conseguiu. Eu achei curioso, as pessoas (inclusive eu) julgam os homens como seres simples e desapegados; minha profissão me provou que são tão complexos quanto nós mulheres, principalmente se tratando de emoções.
Me lembro de um cliente que me marcou muito, que me contratou já no primeiro atendimento por três horas e saiu comigo mais duas vezes na mesma semana; o motivo: queria que eu explicasse o que era o amor. Um homem jovem de 20 e poucos anos, autista recém-diagnosticado, que sentia muitas aflições sobre como demonstrar que amava uma menina por quem ele achava estar apaixonado.
Essa foi uma das ocasiões onde mais senti orgulho do meu trabalho, da importância que ele tem para pessoas e seus problemas invisibilizados, e de como a sociedade excessivamente simplifica o trabalho sexual, que desde sempre se trata de algo muito além do sexo, e este muitas vezes nem marca presença.
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