Querido leitor(a), você não imagina como foi difícil finalmente sentar a bunda na cadeira (e não naquilo que você pensou que eu diria, embora eu tivesse adorado sentar) e escrever esse texto. Isso porque sei da espinhosidade do tema ao qual me proponho a escrever.
Traição é o meu tema desde sempre. Não apenas porque fui infiel na maior parte dos meus relacionamentos, inclusive desde a adolescência (pasmem), mas também porque, sendo acompanhante, eu lidei com o supra-sumo da infidelidade. Afinal, grande parte dos meus clientes eram homens casados.
A atividade tem muitos adeptos, desde séculos remotos. Não faltam exemplos de como a infidelidade transformou o rumo da história. Graças à lábia e à desenvoltura para entreter homens, Aspásia de Mileto, famosa dona de bordel na Grécia do séc. 5 antes de Cristo, viveu um romance intenso com Péricles, governador de Atenas, e virou consultora de assuntos políticos.
Henrique VIII, rei da Inglaterra e um putanheiro de primeira, se viu tão apaixonado por Ana de Cleves, que deu casa, comida e roupa lavada para três de seus amantes.
Isso para não falar da reputação de presidentes envolvidos em escândalos da mesma ordem. Kennedy e Clinton que o digam.
Pois bem. Tendo em vista a inevitabilidade da infidelidade, não seria mais produtivo pensarmos em uma maneira menos dolorosa de dar vazão aos desejos libidinosos com terceiros?
Explico: das histórias de traição que chegam a mim, as mais dolorosas dizem respeito ao envolvimento amoroso com pessoas próximas, do convívio social do casal ou do ambiente de trabalho, o que torna a experiência quase um simulacro de casamento.
Eu sei que, idealmente, no modelo monogâmico de relacionamento, você talvez sonhe com o casamento longevo dos seus avós, que passaram “incólumes” pelas tempestades da vida. Porém, eu me pergunto: será possível, nos tempos modernos, vivermos cegos às tentações mundanas quando as redes sociais nos gritam o tempo todo o quanto a grama do vizinho é mais verde?
Você provavelmente argumentará que, nesse cenário, o melhor a se fazer seria encarar a coerência de um relacionamento não monogâmico. Meu ponto é: quantas pessoas teriam a coragem de encarar essa conversa e falar abertamente sobre desejo e honestidade? Pela minha vasta experiência atendendo homens cujo desejo era notavelmente reprimido, presumo que pouquíssimos. Portanto, é bem provável que essa sociedade utopicamente fiel só exista mesmo nos devaneios ingênuos de muitos de nós.
Nesse contexto, não seria mais produtivo pensar em uma traição que mitigasse seu impacto?
Que arranjo mais útil para esse intuito do que contratar uma acompanhante? Uma transação profissional, cujo intuito é satisfazer os desejos da carne, sem ameaçar a integridade do casamento. Uma transgressão luxuriosa com hora marcada para acabar, no strings attached.
E, embora socialmente, a contratação de acompanhantes seja uma atividade predominantemente masculina, defendo que a mesma prerrogativa seja aplicada a mulheres. Por sinal, seria bastante interessante se elas fossem as maiores beneficiadas com o advento da minha teoria. Talvez a sociedade colapsasse. Aí está uma série que eu adoraria assistir.
Como a grande traidora que fui, você deve estar com ódio de mim. Afinal, só mesmo alguém que tenha sido o autor de uma (ou várias) infidelidade(s) poderia ter uma visão tão prática sobre o assunto. O pobre traído jamais conseguiria elaborar com tamanha lucidez sobre o conluio em que se viu envolvido. Em minha defesa, assumo que também já fui chifruda, porém, decidi não chafurdar na merda e optei por manter minhas suspeitas no campo da imaginação. Se tivessem me perguntado, eu certamente teria preferido a modalidade profissional de vazão dos desejos. E teria, eu mesma, feito a mesma escolha. Teria me poupado de vários amores de pica completamente descabidos.
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