Não existe profissão perfeita; todos temos percalços e lidamos com pessoas mal-educadas. Também temos nossos motivos para estar onde estamos, seja por dinheiro, vocação ou porque era a melhor opção que tínhamos no momento. A minha profissão é muito julgada por ser o dito ‘fim de carreira’, como se todos que optassem por ela não tivessem escolha alguma. Às vezes pode até ser como nos sentimos, mas opção eu acredito que sempre temos. O que as diferencia é o quanto são fáceis ou difíceis e o que estamos dispostos a enfrentar. Ser acompanhante não é de todo ruim nem mesmo bom; há dias e dias, pessoas incríveis e outras péssimas, igual você tem no seu trabalho. Mas qual o pior e o melhor? O 8 e o 80? Vou te contar como é para mim, pois outros profissionais podem ter outros pontos de vista.
O pior
Você quer primeiro a boa ou a má notícia? Como o que mais falam neste caso é sobre a má, comecemos por ela. Hoje, para mim, a pior parte em ser acompanhante é ser constantemente sexualizada. Algo que, sinceramente, toda mulher em qualquer profissão passa, mas para mim é um pouco diferente. Vou te explicar como. No momento em que estou escrevendo esse texto, usando meu celular, se alguém me visse e soubesse minha profissão, diria que estou falando com um cliente, porque é assim que me imaginam o tempo todo. Se estou respondendo uma mensagem, é de cliente; se estou ocupada, devo estar atendendo; se viajo de férias, é com cliente ou um deles bancou; se compro roupas, um cliente deu; até se estou numa festa, estou procurando clientes. As pessoas têm muita dificuldade em nos humanizar, entender que fazemos tudo igual a elas e temos nosso momento de trabalhar e outros para fazermos mil coisas nada a ver com o trabalho. Isso é algo que me irrita e me cansa, pois sou resumida a um corpo que transa 24h.
O melhor
Confesso que aqui precisei pensar um pouco mais; a parte ruim me veio à mente mais rapidamente, mas isso é como aquelas entrevistas de emprego que nos perguntam para listar defeitos e qualidades; os defeitos costumam ser percebidos primeiro. Consigo identificar vários pontos positivos, mas hoje o principal deles é o RESPEITO. Acredite, hoje, sendo acompanhante publicamente, me sinto mais respeitada como mulher do que antes, o que é curioso levando em conta o que citei como pior. Mas vou explicar por que. O respeito a que me refiro é de não ser assediada, verbal ou fisicamente, de não ouvir piadinhas sobre meu trabalho ou não ser levada a sério.
Acredito que eu viva essa realidade por dois motivos: primeiro, porque assumo publicamente o que faço, isso desarma o preconceito; afinal, se eu mesma já digo que sou p*ta, garota de programa, acompanhante, ou seja lá do que me chamem, qual a graça de usar isso para me ofender? E segundo, porque o risco de eu cobrar ou expor o assediador acaba o desencorajando. Triste que isso seja necessário, afinal, respeito deveria ser um direito de todos, independente de qualquer coisa.
Como lidar com o 8 e o 80
O que mais minha profissão me ensinou foi saber aproveitar cada situação em meu benefício, incluindo as ruins. Se acham que estou sempre trabalhando, que achem; isso significa então que sou muito requisitada, logo, muito boa no que faço e então passarei a cobrar mais. E se os homens aprenderam na marra que não devem passar a mão em mim ou qualquer outra forma de assédio, por que não tentar fazê-los entender a forma correta de abordar uma mulher? Faço muito isso através dos prints de conversas de clientes recusados por falta de educação e respeito.
Toda situação que vivemos, seja boa ou ruim, pode nos impactar de mil formas diferentes de acordo com nosso ponto de vista, e não é querer trazer a famigerada positividade tóxica para a conversa, mas entender que algo ruim não é o fim do mundo, e algo muito bom não acontece todos os dias, e principalmente saber onde você quer chegar e usar toda situação a seu favor, até porque, como muito bem disse o saudoso Gato de Alice no País das Maravilhas, para quem não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve.
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