>
>
Meretrizes lota apresentações no Porto Verão Alegre

Meretrizes lota apresentações no Porto Verão Alegre

Foto de Redação josef.santos

Redação josef.santos

2 minutos de leitura

Em fevereiro, esteve em cartaz mais uma vez em Porto Alegre o espetáculo Meretrizes, desta vez no teatro do Instituto Ling, dentro da programação do Porto Verão Alegre. A peça, uma realização do Coletivo Gompa, conta a história e o cotidiano de trabalhadoras sexuais através da atuação impecável da maravilhosa Liane Venturella. O espetáculo também apresenta trechos em vídeo de falas de acompanhantes sobre sua visão da profissão, como a advogada e embaixadora da Fatal Model, Frida Carla.

Logo no começo, traz uma livre adaptação de um trecho do meu livro Putafeminista, e muito me orgulha estar, de algum modo, presente em um espetáculo que trata o tema com tanto respeito e beleza.

A peça estreou em Porto Alegre no ano passado e já foi apresentada em outras cidades do país, entre elas Curitiba e Viamão. Estive no espetáculo de estreia e confesso que me incomodou um pouco o modo estereotipado com que algumas personagens foram retratadas, o que acabava levando a plateia a risos descontrolados. Mas hoje vejo que, sem aqueles momentos de leveza, seria pesado demais assistir até o final.

Não que todas as histórias sejam totalmente tristes, pelo contrário: sem romantizar, o roteiro é um mergulho nas dores e delícias de se tornar uma prostituta, na dureza do “ser mulher” nessa sociedade que toma nosso trabalho enquanto nos invisibiliza e oprime, e na luta necessariamente diária contra o estigma e o preconceito.

Diálogo aberto com trabalhadoras sexuais

Ao final, o público tem ainda a oportunidade de conversar com duas trabalhadoras sexuais de idades e nichos diferentes:
Paula Assunção, que atende clientes captados através de sites e é embaixadora da Fatal Model.
Soila Mar, que há mais de 40 anos trabalha nas ruas da cidade e hoje é coordenadora do NEP – Núcleo de Estudos da Prostituição de Porto Alegre.

Com histórias de vida e modos de atuação completamente diversos entre si, elas conduzem essas conversas com a tranquilidade e a sabedoria de quem conhece o meio em que atua, mas também entende a falta de conhecimento do público sobre o tema.

📌 Muitas mulheres estão tendo ali o primeiro contato real com uma prostituta, e muitos homens – embora frequentem nossos espaços – são chamados, pela primeira vez, a nos verem como pessoas reais.

Dessas conversas, surgem perguntas interessantes sobre planejamento financeiro e também questionamentos inusitados, como se as duas usam, em seus trabalhos, roupas elegantes como as que vestem no palco.


Meretrizes e a importância da arte para o debate social

Importante dizer que ambas as sessões no Instituto Ling lotaram. Eu e a amiga e escritora Mariam Pessah combinamos de assistir juntas, mas acabamos sem ingressos!

Fico feliz, de qualquer modo: é bom saber que o teatro segue sendo um programa apreciado pelos porto-alegrenses e, em especial, saber que se interessam por nossas histórias.

No entanto, me pergunto: esse interesse todo pode mesmo, a médio prazo, refletir em um mundo com menos preconceito em relação a essa categoria que existe e resiste há séculos? Ou será que apenas somos interessantes como entretenimento?

Reconheço demais o papel da arte como espaço para questionar e mudar o mundo, e torço então pela primeira opção.

📅 (Para quem ainda não assistiu ou deseja rever Meretrizes, a diretora Camila Bauer me contou que a peça estará novamente em cartaz no dia 22 de março, desta vez no palco principal do Teatro São Pedro, em Porto Alegre. Se programem!)


Já assistiu o espetáculo Meretrizes? Deixe seu relato aqui nos comentários!

Filtre por título

Compartilhe este artigo:

Assine nossa newsletter
para receber mais conteúdo