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A importância de me assumir como acompanhante

A importância de me assumir como acompanhante

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Redação josef.santos

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Foi necessário dezoito anos no exercício do trabalho sexual para eu compreender que fazia parte de um grupo social, com história de lutas políticas e justas reivindicações. Aprender também que a minha profissão, de acompanhante, é um trabalho possível e reconhecido pelo Ministério do Trabalho e Emprego no Brasil, ainda que esteja inserido num rol de trabalhos precários, e colocado à margem da sociedade, como tantos outros.

E é com esse trabalho que eu construí a minha vida e venho sobrevivendo nos últimos vinte e três anos. Inclusive, foi como acompanhante que eu custeei a minha primeira graduação em direito numa universidade privada e cursei um mestrado sem bolsa de estudos na Universidade do Estado da Bahia, em pleno período pandêmico. Atualmente, estou cursando minha segunda graduação em pedagogia e caminhando para o ingresso no doutorado, tudo isso em pleno exercício do trabalho sexual, no auge dos meus 42 anos.

Hoje, eu me enxergo como uma mulher que reconstruiu a própria identidade a partir do reconhecimento e valorização da minha história; acredito que esse foi o primeiro passo, e assumir o meu trabalho foi parte fundamental. Diante disso, considero que o conhecimento adquirido é o meu maior patrimônio, pois sem conhecimento eu jamais teria consciência do contexto social em que estou inserida desde os dezoito anos de idade.

Acredito que todas nós, mulheres que exercemos o trabalho sexual, devemos e merecemos ter um caminho de oportunidades e escolhas profissionais. E é com base nesse pensamento que eu venho buscando diariamente a construção de um caminho com oportunidade e escolhas, evidenciando que é possível, nós trabalhadoras sexuais, ocuparmos outros espaços sociais enquanto ainda exercemos o trabalho sexual. Não é fácil, sobretudo pelo estigma diário que enfrentamos, por isso a importância em ter o conhecimento necessário para combater os estigmas e todo tipo de preconceito à nossa profissão.

Todo esse relato é justamente para inspirar e demonstrar para outras mulheres que, assim como eu, não correspondem às expectativas da sociedade, por não se encaixarem nos padrões morais femininos ao exercerem uma profissão estigmatizada. O trabalho sexual é tão digno quanto qualquer outro, precisamos ter essa consciência para continuar lutando, por mim, por você e por todas nós, inclusive por aquelas que ainda vão ingressar na profissão de acompanhante.

Gostou do texto? Conheça a autora, Frida Carla

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