De uns tempos pra cá aumentou consideravelmente o número de menores de idade que me procuram através do meu anúncio tentando agendar atendimento, eu sempre recuso, por razões óbvias, mas tenho pensado no porquê desse aumento, e analisado principalmente a forma como me tratam na curta conversa que temos, que encerra após eu saber da idade. Em sua maioria, meninos de 15 a 17 anos, grosseiros, adolescentes, me tratando com total desdém e falta de educação, e usando a clássica palavra “puta” na tentativa de me ofender. Minha preocupação surge, além de outro assunto que já comentei, em dois pontos: na problematização da virgindade que só cresce a cada dia, e na forma como estão aprendendo a tratar uma mulher.
O óbvio precisa ser ensinado
Vocês devem pensar que essas mensagens chegam na madrugada, quando os adolescentes não correm o risco de serem pegos pelos pais e podem acessar pornografia. Pois errou quem achou que fosse assim. Recebo esses contatos quase sempre durante a tarde, pais e mães tendem a achar que os filhos só aprontam de noite, principalmente coisas relacionadas a sexo. Você, caro leitor, se tem filhos, já conversou com eles sobre educação? Sobre como tratar as pessoas sem selecionar com quem ser ou não educado? E caso não seja pai ou mãe, os seus tiveram essa conversa com você ou foi tudo aprendido na “escola da vida”? Porque nem sempre essa escola forma bons alunos, então não podemos deixar a cargo da vida decidir quem vai ou não se graduar com louvor.
Educação não vê gênero nem profissão
Nem faz diferenciação alguma. A geração atual de adolescentes me parece muito “largada”, vejo jovens escolhendo quem merece gentileza com base no quanto essas pessoas lhes são úteis. Xingamentos absurdamente sexistas, que foram aprendidos de alguma forma, afinal ninguém nasce sabendo chamar uma mulher de puta e dizendo que ela tem obrigação de servi-lo. Possivelmente fruto de uma criação machista e experiências que provam que a mulher foi feita para servir o homem, e se essa mulher for paga pra isso então, que agradeça a Deus e esteja pronta pra fazer tudo sem reclamar.
A sociedade em geral já coloca diariamente a mulher em situações submissas, basta andar na rua e reparar quantas mulheres passarão numa calçada onde há um grupo de 3 homens ou mais, geralmente até um só basta. Ensine seus filhos, e também a você mesmo, que ser educado e tratar as pessoas com respeito independe de gênero, profissão, classe social, e seja lá qual for o contexto de vida que a pessoa esteja inserida.
Falta de pai e mãe?
A mim sempre parece que esses adolescentes procuram acima de tudo por atenção e serem validados como adultos que ainda não são, já que o início da vida sexual nos marca muito como sendo, dali em diante, “homens e mulheres” e deixando de sermos “mocinhos e mocinhas”. Temos tendência a acreditarmos que a turma dos 15 a 17 anos já é formada por homens adultos, que já deixaram de lado qualquer infantilidade e passamos a tratá-los como mais maduros do que de fato são, ou justamente o contrário, às vezes na tentativa dos pais de terem seus bebezinhos pequenos pra sempre, o que, na minha opinião, reforça um estímulo de fazê-los provar que são grandes, que não precisam de atenção, já que muitos nem a recebem, e principalmente o homem tende a mostrar isso buscando sexo, que socialmente é o que os afirma como maduros, machões e independentes.
Seria então a causa de tantos meninos adolescentes buscarem profissionais do sexo, a vontade de na verdade obterem carinho e atenção de pai e mãe? Freud explica… pra mim isso parece tão forte, que costumo me impor na conversa como se fosse mãe deles, mas sem xingar, sempre os tratando como iguais e com educação, alguns eu mando até saírem do celular e irem lavar a louça, e pasmem, independente da falta de educação anterior a isso, quase todos eles me pedem desculpas. Todos sabemos o quanto somos ocupados, mas isso não pode ser motivo para sermos negligentes com nossos adolescentes, seja dando atenção demais ou de menos. A chave sempre é uma só: diálogo e escuta de qualidade.
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