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Brasília: a capital do sexo pago

Brasília: a capital do sexo pago

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Redação josef.santos

3 minutos de leitura

Fundada em 1960, a capital brasileira talvez seja uma das cidades mais peculiares do país. Acontece que Brasília é uma cidade totalmente planejada, em que os famosos candangos (operários que trabalhavam na construção da cidade) ergueram seus prédios e monumentos tijolo por tijolo. Mas não foi só o trabalho braçal masculino que ajudou na construção da capital.

Conforme um estudo acadêmico realizado por Joelma Rodrigues da Silva, pesquisadora da Universidade de Brasília, tão logo o início das obras foi aprovado (em 1956), três primeiras profissionais do sexo chegaram às terras onde a capital seria erguida. Elas chegaram antes mesmo dos arquitetos que projetariam a cidade! 

Essas profissionais e as demais que vieram na sequência, também tiveram papel fundamental na construção de Brasília, já que o trabalho desempenhado por elas, sem dúvidas, contribuiu para a maior produtividade dos operários. Afinal, o pensamento na época era que: quem ficaria por anos construindo uma cidade, trabalho braçal, debaixo de sol, chuva, longe da família, etc., sem nenhum momento para distração e lazer? 

Lazer para uns, trabalho pesado e não reconhecido para outros. As pioneiras na prostituição em Brasília viveram condições difíceis e, nem de longe, tiveram o respeito e o reconhecimento que mereciam.

Um pioneirismo difícil para as acompanhantes de Brasília

Ser as primeiras acompanhantes a chegar em Brasília (quando a cidade sequer existia) foi uma missão difícil e inglória para essas mulheres. Só para se ter uma ideia, nessa época a profissão ainda não era devidamente reconhecida, e acompanhantes eram presas simplesmente por serem acompanhantes. Por esse motivo, trabalhar no ramo, além de arriscado, costumava ser bastante sofrido.

As profissionais que lá chegaram não tinham nenhum amparo. Além de sofrerem diversos tipos de violência, seu trabalho ainda era submetido às demandas do Estado – que, na época, atuava como um “cafetão” para elas. 

Conforme relata Joelma, durante sua pesquisa sobre o assunto (a história/papel dessas mulheres na construção de Brasília), ela observou que essas profissionais do sexo eram minimamente identificadas – muitas vezes, mencionadas apenas pelo primeiro nome e tratadas como criminosas.  A principal função que lhes foi atribuída, chegando à capital, era para conseguirem manter os trabalhadores mais “calmos, disciplinados e produtivos”. Ou seja: o seu próprio bem-estar pouco, ou nada, importava. 

Passados dois meses da chegada das 3 primeiras mulheres, esse número aumentou consideravelmente – chegando a 40 profissionais disponíveis para os trabalhadores, nesse período. Com a carência do básico para trabalhar, rapidamente as infecções sexualmente transmissíveis se disseminaram, o que tornou a vida dessas acompanhantes, na recém nascida Brasília, ainda mais difícil e desafiadora.

Onde estão essas mulheres na história da construção de Brasília?

Como não é de se espantar, poucos são os relatos encontrados sobre as primeiras profissionais do sexo que chegaram na cidade mais importante do país. O estudo citado aqui, da pesquisadora Joelma da Silva, foi, até então, o primeiro e único feito exclusivamente sobre a prostituição feminina na construção de Brasília. Ela mesma encontrou os principais relatos da sua pesquisa em ocorrências policiais da época – confirmando a falta de devido reconhecimento e amparo a essas mulheres.

Com importante participação na construção da capital, a forma de trabalho das acompanhantes da época mostra que a realidade das acompanhantes atuais pode ser considerada melhor (afinal, há mais respeito, dignidade, espaço e proteção) – pelo menos para muitas profissionais do sexo. Para outras, no entanto, a falta de dignidade ainda é um dos maiores desafios da profissão.

Conhecer um pouco da história das mulheres que, direta ou indiretamente, ajudaram a construir Brasília é uma forma de reconhecer a importância do trabalho das profissionais do sexo que, ao longo dos anos, ainda permanecem esquecidas ou vistas sob uma ótica de inferioridade.

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