Há quem afirme que o termo “cachê” é associado como sinônimo de pagamento exclusivamente a artistas, e conforme nosso saudoso dicionário: cachê é um “Valor oferecido à pessoa que realiza uma apresentação em público, geralmente um artista (ator, cantor, dançarino etc.)“. Mas, se nós, acompanhantes, não nos encaixamos, pelo menos não conforme a sociedade, nem como artistas, nem como assalariados, que palavra resta para designar o montante que cobramos? “Presente“?
Presente não exige nada em troca
Tirando algumas empresas que gostam de gratificar seus funcionários com bombons pelos milhões vendidos no mês (e depois falam que exploração existe só na prostituição), presente não é pagamento. É muito comum clientes nos darem mimos, chocolates, flores, jóias… Estes sim são presentes, algo a mais que o cliente deu apenas porque sentiu vontade, e não era esperado nem fazia parte do acordo. Nossa remuneração é nosso direito, afinal, trabalhamos e estamos ali por isso.
Algumas acompanhantes inclusive se referem ao próprio pagamento como presente, o que acho interessante. Será que existe um desconforto consigo mesma ao admitir o que ela está fazendo e pelo que está cobrando?
Porque o pagamento é um tabu?
Parece que estou mentindo, mas muitos homens nos procuram, e quando chega a hora de acertar os detalhes financeiros, instala-se um desconforto e constrangimento consideráveis de sua parte. Alguns já me confessaram que se sentem comprando a pessoa, e não o serviço, tamanho é o preconceito social enraizado sobre nossa profissão. Já tive clientes que preferiram pagar antecipado só para não ter que me entregar o dinheiro ou fazer a transferência pessoalmente, para evitar deixar a situação nitidamente comercial. No entanto, o que é de fato: um acordo entre dois adultos, ambos conscientes dos interesses envolvidos. Por que, então, tanta dificuldade?
Autoestima fragilizada
Como boa estudante de psicologia que sou, e ainda mais curiosa sobre comportamento humano, adoro analisar o porquê agimos de determinadas maneiras. Pensando sobre homens que têm essa dificuldade com o ato de pagar a acompanhante e dar os nomes às coisas, me parece muito que admitir a si mesmo que você está pagando pra ter intimidade com alguém, é assumir algum tipo de incapacidade de ter alguém de graça. Mas será? Às vezes até pode ser.
Dependendo do nível de educação e como esse homem trata uma mulher (como é o caso de alguns terríveis que me procuram) realmente nenhuma mulher vai querer estar com ele nem pagando, que dirá de graça. Mas não podemos esquecer que cada um tem seus motivos pra contratar uma acompanhante. e quase nunca tem a ver com capacidade, mas com praticidade, curiosidade e até apenas pela vontade de conhecer aquela pessoa específica.
Trabalho exige pagamento
Essa dificuldade tem muito a ver com não levar nossa profissão a sério. Algumas pessoas não compreendem que oferecemos um serviço, da mesma forma que uma babá, uma diarista, um arquiteto e muitas outras profissões. Nenhum deles você fala em “presente” na hora de pagar. Quando ouço isso, às vezes me soa inclusive como uma tentativa, talvez até inconsciente, de diminuir meu trabalho e me colocar numa posição de coitadismo, como se eu não fosse desempenhar algo suficientemente bom e profissional, para ser encarado como trabalho e eu ser paga por isso, quase como “Toma aqui um presentinho pra te ajudar”.
Afinal, acompanhante recebe o que? Presente ou Cachê?
Presente só se for algo extra, isso é fato.
Eu gosto da palavra cachê, acredito que seja a mais usada tanto por profissionais como por clientes. Se levarmos em conta significados de dicionários, será mesmo que não somos artistas? Afinal, atuamos, performamos e até memorizamos diálogos para diversas situações, comprovando isso, temos os fetichistas e dominadores como testemunhas. Além disso, independente de como prefira chamar, cumprir o acordo é sempre a garantia de satisfação para ambas as partes. O combinado não sai caro!
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