Confiança é o sentimento base de muitas formas de relacionamento, seja de amizade, namoro, relação entre irmãos e até profissional, como com médicos, psicólogos e qualquer outra pessoa que tenha acesso ao seu corpo, mente ou à sua vida. Nós que somos profissionais do sexo lidamos com o íntimo das pessoas, e com íntimo não me refiro somente ao corpo e ao ato sexual, mas à identidade de cada um, muitas vezes até aos segredos mais obscuros que essas pessoas jamais contaram pra alguém. Quando você passa a ouvir tanta realidade nua e crua, fica difícil não se deixar afetar na nossa vida pessoal, afinal quantos de nós mascaramos sentimentos até pra conseguir viver em sociedade? Mas como exatamente isso nos afeta?
Saber demais, confiar de menos
Não é novidade pra ninguém que nosso público é em maioria de homens casados, e parece ser uma necessidade de muitos deles comentar sobre a esposa durante o atendimento com uma acompanhante, seja falando bem, mal, ou até contando suas artimanhas para estar ali sem ser descoberto por ela. Chega um momento em que nós, de tanto ouvirmos a verdade que não estamos acostumadas a ouvir, o homem por detrás daquela “máscara”, sem pudores, sendo ele mesmo em toda sua essência, começamos a pensar se talvez todos eles não usem alguma “máscara” dessas, e aí me surge uma dúvida, que certamente já ocorreu com outra acompanhante: será que um homem só é plenamente sincero e verdadeiro com a Paula profissional?
Nem tudo queremos saber
Falar da vida pessoal quase sempre vai incluir falar do casamento, isso é normal e até saudável, inclusive eu até estimulo meus clientes a falarem disso porque é um assunto que pode trazer muitos benefícios, sempre costumo aconselhá-los quando trazem pontos negativos sobre a relação sexual do casal, por exemplo. Mas até que ponto isso é saudável para nós? Afinal, temos que ter auto cuidado também. Algo que eu sei que não é legal pra mim, por exemplo, é saber quais as desculpas aquele homem dá para sua esposa para estar ali, porque isso pode me deixar paranóica com a minha vida pessoal, sim porque temos vida pessoal, muitas acompanhantes namoram e são casadas, então é um passo pequeno para achar que nossos parceiros ou parceiras podem estar dizendo para nós o mesmo que os nossos clientes dizem para suas esposas.
Não é hipocrisia, é profissionalismo
Muita gente acha que nós acompanhantes somos culpadas ou fazemos parte de uma traição quando atendemos homens casados, mas a verdade é que quase nunca se quer sabemos da vida pessoal deles até chegarmos no momento do atendimento, e são informações que nem nos interessa saber, as escolhas do cliente e sua vida pessoal compete somente à ele. Prestar um serviço a alguém não te torna parte da vida dessa pessoal e tampouco responsável por qualquer consequência que venha a ocorrer na vida dela. Se uma mulher faz uma reforma em casa sem o seu marido saber e eles se separam por isso, a culpa não vai ser do pedreiro, mas de quem o contratou (foi só um exemplo, não saiam terminando relacionamentos por conta de uma obra).
Confiança não é só sobre acreditar, é sobre entrega
Após algumas sessões de terapia eu entendi que confiança não se resume somente a acreditar que alguém está dizendo a verdade, mas também tem a ver com entrega, com vulnerabilidade. Nós acompanhantes, por lidarmos com pessoas desconhecidas diariamente, aprendemos a ficarmos mais reclusas mentalmente, por auto proteção, não nos entregamos totalmente nem mostramos nossos pontos fracos. Aprender a se permitir fazer isso com alguém é um processo bem lento e difícil, por isso para nós é um pouco mais difícil nos relacionarmos.
Não generalizar comportamentos é muito importante, mas infelizmente é difícil estar na nossa posição e confiar que no momento em que formos a esposa, a namorada, a mulher, nosso parceiro/a ainda será sincero, sem máscaras ou pudores. Nós acompanhantes aprendemos mesmo que sem querer, que as pessoas só são plenamente honestas com a gente no momento em que somos profissionais, mas isso muito ainda tem a ver com a sociedade ser tão moralista e julgadora das decisões alheias, se fazendo necessário que alguém precise contratar um serviço às vezes apenas pra conversar e mostrar sua personalidade real, se isso melhorasse, talvez tivéssemos menos pessoas sendo elas mesmas por apenas 1 hora.
Aviso: As opiniões apresentadas no texto representam o ponto de vista da colunista e não expressam, direta ou indiretamente, as opiniões da Fatal Model.