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Te convido(a) a se acomodar, pois o papo de hoje é sério e polêmico.
Nos últimos dias, a Fatal Model promoveu uma campanha de conscientização em alusão ao Mês da Diversidade, comemorado em junho. A campanha contou com peças publicitárias informativas nas redes sociais e, aqui no blog, foram publicados relatos de homens e mulheres transexuais, assim como homens e mulheres bissexuais que atuam no ramo de acompanhantes. Além disso, o Fatal Blog contou com uma participação especial de Amara Moira, uma travesti, professora e que já atuou como acompanhante.
Bom, chegou a hora da gente falar da primeira letra da sigla LGBTQIA+. Para os poucos familiarizados com essa sigla, cada letra representa uma orientação sexual ou identidade de gênero conforme a imagem abaixo. A letra “L” vem do termo lésbicas, mulheres que sentem atração física e/ou afetiva por outras mulheres.
Entenda a sigla:
Em 2009, uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo em 10 capitais do Brasil, apontou que 4,9% das mulheres diziam-se lésbicas e 1,4% bissexuais, para um total de 6,3% dos entrevistados. Por mais que a temática diversidade tenha ganhado espaço de discussão nos últimos anos na tentativa de diminuir o preconceito, os dados referentes a parcela de mulheres lésbicas no Brasil são escassos e defasados – e irá continuar assim, pois o IBGE não incluiu no Censo Demográfico de 2021 perguntas sobre sexualidade e identidade de gênero.
Sendo assim, o texto de hoje tem como objetivo desmistificar algumas opiniões sobre o universo lésbico e responder às perguntas:
– Lésbicas sofrem menos preconceito do que os gays?
– Por que as lésbicas são sexualizadas e fetichizadas pela sociedade?
– Por que esse comportamento é ultrapassado e precisa ser repensado?
Se você quer entender melhor o universo lésbico continue a leitura que vamos nos aprofundar na temática.
Elas sofrem menos preconceito?
Primeiramente, uma das falas mais propagadas e menos verdadeiras é que a mulher que se assume lésbica sofre menos com preconceito do que um homem gay.
E engana-se quem pensa que esse pensamento é oriundo de uma sociedade mais flexível com as mulheres ou de que as lésbicas são mais respeitadas. Esse pensamento é proveniente de uma sociedade machista e de uma masculinidade extremamente frágil.
A mulher lésbica frequentemente tem a sua sexualidade infantilizada (e isso ocorre quando ela tem a sua escolha confudida com uma fase, período transitório ou indecisão) e banalizada através da sexualização dos seus corpos femininos.
A sexualização acontece, por exemplo, quando um casal de homens gays se beijando na rua é visto com ato “nojento” enquanto um casal de lésbicas é um ato que causa menos repulsa, pois é mais livre às outras possibilidades. Logo, o pensamento de que mulheres lésbicas sofrem menos preconceito é fruto dessa sexualização masculina para satisfazer seus fetiches.
Entre as violências registradas com maior frequencia pelo público lésbico está o “estupro corretivo”. Isto é, a violência sexual que objetiva “mudar” a orientação sexual da vítima, agressões e internações forçadas visando “converter” a orientação sexual.
Cansadas da fetichização masculina
A fetichização da mulher lésbica é o ponto máximo de uma sociedade machista, misógina e homofobica. Homens tendem à enxergar em casais de mulheres um convite a relações sexuais. A mulher lésbica é colocada no papel de satisfazer os desejos do homem, mesmo quando ela sinaliza sua sexualidade.
Historicamente, a mulher foi subjugada, sendo responsabilidade feminina cuidar e servir aos homens em todos os sentidos, inclusive sexual. Por isso, a ideia do ménage à trois é moralmente mais aceita na sociedade conservadora. Ver duas mulheres trocando carícias e interagindo sexualmente é permitido, desde que haja um homem interagindo na cena e sendo contemplado.
Outro exemplo de fetichização vem da mídia. A utilização de imagens com casais de mulheres em poses sensuais, sempre dentro do modelo hegemônico de beleza, com mulheres jovens, brancas e magras. O estereótipo mais aceito e desejado pelo público masculino.
Mulheres lésbicas no mercado de acompanhantes
Em uma pesquisa realizada pelo setor de Data Science da Fatal Model aponta que a plataforma conta com 388 cadastros de mulheres cis e 2 mulheres trans que se denominaram lésbicas. E absolutamente todas essas mulheres estão dispostas a atender homens em seus atendimentos. Um fato curioso e ao mesmo tempo triste.
Dessa forma, pode-se concluir que o mercado de acompanhantes ainda é pouco procurado por contratantes lésbicas devido a falta de uma clientela adequada. As acompanhante lésbicas passam por cima de sua sexualidade para rentabilizar, sendo mais uma vez alvo da sexualização masculina.
Os principais mitos sobre as lésbicas
Buscando levar informação e diminuir o preconceito, o Grupo de Trabalho de Gênero, Sexualidade, Diversidade e Direitos (SBMFC) desenvolveu uma cartilha com Mitos e Verdades sobre Saúde da População LGBTQIA+.
De acordo com esse material, as afirmativas mais comuns são:
- Lésbicas não precisam fazer preventivo: Pesquisas demonstraram que lésbicas fazem menos exames preventivos do que as mulheres hetero e bissexuais e têm uma chance menor de buscar a vacina contra o HPV. Entretanto, a transmissão do HPV pode ocorrer no sexo oral, na masturbação, no uso compartilhado de acessórios sexuais e no contato entre as vulvas.
- Casais de lésbicas não têm relações abusivas e violentas: Ainda existe a crença de que a relações entre lésbicas sejam mais igualitárias e menos agressivas. Mas as pesquisas já mostraram que a violência conjugal acontece na mesma ou até em maior frequência do que entre heterossexuais.
- Lésbicas não querem e/ou não podem ser mães: O desejo de ter filhos independe da orientação sexual ou identidade de gênero e há diversas formas pelas quais esse desejo pode se concretizar. Como a adoção, inseminação ou até mesmo a famosa produção independente.
- Uma mulher é lésbica porque se frustrou com homens ou porque foi vítima de abuso sexual: Até hoje a orientação sexual não pode ser ligada de forma comprovada a traumas, influencias, a alterações genéticas ou hormonais. Parte-se do princípio de que orientação sexual e a identidade de gênero são construções sociais.
Use o bom senso
Por fim, peço a você caro leitor que chegou até o fim desse texto usar sempre o bom senso. Se você é um homem hétero, certamente, não iria gostar de ser convidado por um casal de homens gays para uma noite à três. Por exemplo, você se sentiria ofendido ao ser convidado para um beijo triplo ou ser assediado com toques e olhares de outro homem, mesmo depois já tendo deixado claro a sua orientação sexual. Não é mesmo?
Respeite o próximo! Não faça com o outro o que você não gostaria que fizessem com você. A mulher lésbica não está a disposição do seu prazer e, sim, a disposição do prazer dela própria, sem que precise ser julgada por expressar suas vontades.