A primeira coisa que as pessoas perguntam quando sabem que sou acompanhante é “Qual foi a coisa mais estranha que você já fez?” Ou pensam que meus atendimentos são sempre resumidos a fetiches incomuns, coisas bizarras e absurdas. Mas a verdade é que tudo é muito mais comum do que se pensa. E às vezes nem chega a rolar alguma intimidade física com o cliente. Recentemente, depois de perguntarem qual tinha sido meu atendimento mais marcante, me peguei pensando no assunto, e para a alegria dos curiosos, vim aqui dividir essa experiência com vocês mas já aviso: não vai ser nada do que você está imaginando.
Todo atendimento é inesquecível?
Não é surpresa eu dizer que não. Às vezes nem mesmo você se lembra de todas as pessoas com quem se relacionou casualmente, imagine eu que estou lá a trabalho e sem nenhum envolvimento. Algumas pessoas tendem a achar que todo cliente, se for legal e sexualmente agradável, vai nos marcar; lamento dizer que não.
Pense o seguinte: você trabalha em uma loja de roupas, atendendo várias pessoas por dia, num desses dias fez uma venda para um cliente que foi simpático. Você vai lembrar dele semana que vem por conta disso? Aposto que não. “Ah mas é diferente porque há intimidade com uma acompanhante”, para nós essa intimidade é profissional, sem nenhum envolvimento emocional e pessoal, então terá sido só mais um dia de trabalho.
O que torna um atendimento memorável?
Acho que todo cliente tem quase um fetiche em ser inesquecível para uma acompanhante. Provavelmente pelo ego inflado de ser lembrado por uma mulher que tem vários homens. Sinto dizer que não há receita para isso, já que é algo muito pessoal. Algumas lembrarão do cliente pela performance sexual; outras, pela conversa. Algumas até pelo cachê ou algum presente (eu mesma já ganhei uma airfryer; confesso que nunca mais esquecerei esse momento).
Mas acredito que a base de tudo seja educação, gentileza, fazer algo além do esperado. Porque convenhamos, nos tratar bem, assim como qualquer pessoa, é obrigação, isso não tornará um cliente inesquecível. É sobre dar além do mínimo, e aqui não me refiro exclusivamente ao material.
Meu atendimento mais marcante
Aconteceu em agosto deste ano (2023), em São Paulo, durante uma breve temporada que fiz lá. Ele agendou normalmente, sem nada de diferente. Quando chegou ao meu flat, notei que ele tinha alguma deficiência física, mas ele parecia estar bem resolvido com isso, e de fato estava. Conversamos e ele me explicou que tinha paralisia cerebral, mas que não encarava isso com coitadismo, na verdade estava até entrando pro ramo da comédia, tornando sua limitação um diferencial.
Mas o inesquecível pra mim, foi o motivo pelo qual ele me contratou. Segundo ele: “te contratei porque percebi que temos algo em comum, as pessoas nos colocam em caixas e nos limitam, eu pela minha deficiência, e você pelo seu trabalho”. Essa frase me faz refletir até hoje. A forma como esse homem me fez repensar o tanto de coisas que eu deixava de fazer por pensar que deveria caber nesta caixa. Uma caixa de preconceito, de vergonha, de limites, me levou a muitas conclusões.
Fora da caixa
Trabalhadores sexuais foram colocados às margens da sociedade por pessoas que muito utilizam-se dos nossos serviços. Falam de uma moral que nem mesmo possuem, não aceitam que nós estejamos nas mídias, nos holofotes, até em faculdades ou simplesmente tendo um relacionamento e uma família. Não lamento informar que nós já saímos dessa caixa que fomos colocados, e seguiremos empoderados, cientes de que podemos ocupar qualquer espaço.
Por fim, meu obrigada eternamente a esse cliente que mudou minha percepção sobre ser acompanhante.
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