>
>
Mulheres que escrevem “putaria”

Mulheres que escrevem “putaria”

Foto de Redação josef.santos

Redação josef.santos

2 minutos de leitura

Nas últimas décadas, mulheres corajosas ingressaram em um campo cuja predominância, durante muito tempo, foi masculina: escrever sobre suas próprias experiências sexuais. Embora o gênero tenha se popularizado recentemente, continuo a sentir um certo preconceito em relação às escritoras dessa vertente, como se escrever sobre sua própria vida sexual as tornasse autoras secundárias. Enquanto Bukowski e Henry Miller são amplamente conhecidos, Anaïs Nin e Colette muitas vezes são relegadas às margens do reconhecimento literário. Essa disparidade me atormenta, um lembrete constante dos duplos padrões que persistem na sociedade.

A libertação por meio da escrita

Enquanto escrevo este texto, considero meu próprio lugar nessa linhagem de mulheres escritoras ousadas. O documento em branco à minha frente é tanto um convite quanto um desafio. Sei que as palavras que eu digitar serão examinadas impiedosamente. Talvez descartadas por alguns como mera excitação ou, pior, como uma exposição narcisista medíocre.

Mas penso nas mulheres que vieram antes de mim, que ousaram colocar suas experiências mais íntimas no papel. A coragem delas me estimula. Começo a escrever, detalhando a sinestesia da experiência orgástica, as habilidosas estratégias pornográficas do meu amante.

A cada frase, sinto uma sensação de libertação, retomando a minha narrativa. Revivo a sensação de ser devorada e continuar queimando.

Conforme as palavras fluem, imagino futuras gerações de mulheres descobrindo meu trabalho, talvez escondido em uma prateleira empoeirada de uma biblioteca ou em algum sebo hipster. Espero que elas sintam a mesma emoção inquietante que experimentei quando li pela primeira vez Hilda Hilst ou Anaïs Nin — o choque do reconhecimento, a validação de seus próprios desejos e experiências.

Mulheres, Prazer e Vulnerabilidade

Escrevo sobre prazer sem vergonha, sobre a realidade crua e bagunçada da conexão humana. Meus dedos correm pelas teclas, dando voz às confissões sussurradas e aos anseios secretos que a sociedade muitas vezes tenta silenciar. Descrevo a dificuldade e o desconforto dos primeiros encontros, a intimidade confortável dos amantes de longa data, a dor agridoce das fantasias solitárias.

À medida que me aprofundo em minhas memórias e imaginação, uma sensação de poder toma conta de mim. Cada palavra é um ato de desafio contra aqueles que diminuem ou descartam minhas experiências. Estou reivindicando meu lugar no mundo literário, recusando-me a ser relegada às margens ou rotulada como inferior. Minha escrita não se trata apenas de sexo; trata-se da condição humana, de vulnerabilidade e conexão, das maneiras como buscamos e encontramos significado em nossos corpos e em nossos relacionamentos.

Sexualidade Feminina

Enquanto escrevo, descubro que não estou apenas explorando minhas próprias experiências, mas também o panorama cultural mais amplo da sexualidade feminina. Escrevo sobre as expectativas sociais que moldam nossos desejos, sobre as maneiras como o prazer das mulheres muitas vezes é negligenciado ou mal interpretado. Aprofundo-me nas dinâmicas de poder em jogo nos encontros sexuais, nas maneiras sutis e não tão sutis em que os papéis de gênero influenciam nossos momentos mais íntimos.

Faço uma pausa, relendo o que escrevi. Pergunto-me como será recebido, se será descartado como pornografia ou celebrado como literatura. Mas afasto esses pensamentos, lembrando-me de que não estou escrevendo para críticos ou editores. Estou escrevendo para mim mesma, para as mulheres que virão depois de mim, para qualquer pessoa que já tenha se sentido sozinha em seus desejos ou envergonhada por suas experiências.


Acompanhe nossa colunista Gabi Benvenutti nas redes sociais clicando aqui. Leia também:

https://fatalprod.josef.com.br/blogcolunistas/eu-vou-tirar-voce-desse-lugar/

Filtre por título

Compartilhe este artigo:

Assine nossa newsletter
para receber mais conteúdo