Começa a chegar o Dia das Mães e o esperado é o de sempre: o comércio bombardeando propagandas sobre maternidade, fotos de mães e seus filhos sorrindo enquanto elas recebem presentes, todo mundo feliz e unido. Mas pouco se vende a imagem da mulher que não é mãe, mas apenas filha.
Pouco ou quase nada se fala desses filhos que não tem mãe pra presentear ou almoçar no domingo, seja por abandono, desavenças, falecimento ou qualquer outro motivo.
Então hoje vim aqui lembrar desses que o comércio esquece, justamente porque não irão dar lucro e na minha profissão as pessoas gostam muito de dar motivos depreciativos ou relacionados a miséria pra justificar nossa escolha por esse trabalho, um deles é a falta de mãe ou de pai. Mas será?
Nem toda mãe vai amar seu filho
Já chega de achar que “mãe é mãe”, e que “não existe nada maior que amor de mãe” na verdade tem mães que simplesmente não irão amar seus filhos por N motivos, e precisamos aceitar e parar de forçar sentimentos nas pessoas pelo simples fato de haver um laço biológico, porque às vezes o laço será só esse mesmo.
Eu mesma custei a entender isso, por não ter uma relação com minha mãe há mais de 12 anos, tive que aprender a viver fora da norma social que nos obriga a passarmos essa ideia cinematográfica de família feliz e unida nos feriados.
“Você é acompanhante porque é revoltada”
Essa frase quase toda acompanhante já ouviu, que nós estamos nessa vida porque tivemos pai ausente, que não temos mãe, e hoje somos o “orgulho da família”. Como se todas fôssemos viver nossa vida agindo como crianças que estão fazendo birra pra chamar atenção da mamãe.
Quem sabe até podem haver casos assim mesmo, mas estão longe de ser maioria, há muitas de nós que optaram pelo trabalho sexual, ou mesmo as não viram outra oportunidade além dessa, que tiveram e tem famílias presentes em suas vidas e é verdade que muitas acompanhantes vêm de famílias desestruturadas, mas sinceramente, qual não é?
Configurações familiares perfeitas não existem nem mais na Disney, até ela tem trabalhado mais com a realidade ultimamente.
O quanto não ter mãe presente influencia na vida de quem é acompanhante
Ser acompanhante e não ter mãe presente, falando por experiência própria, tem o mesmo peso que teria se eu fosse secretária, médica, dona de casa ou qualquer coisa.
O peso maior disso é na vida pessoal e não na profissional, talvez a única diferença aqui seja que no trabalho sexual nos colocamos em situações mais íntimas e às vezes mais arriscadas do que na maioria das profissões, nos deixando mais vulneráveis psicologicamente e carentes, e um colo de mãe nessas horas não iria mal, mas não é nada que um amigo não possa resolver. I
nclusive já tivemos um episódio sobre isso do Podcast Acompanhadas, onde nosso Embaixador Gabe Spec traz sua mãe pra conversar sobre a sua profissão de acompanhante.
Mãe às vezes não é nem quem cria, nem quem pariu
O ditado “pai é quem cria” é muito comum, mas você já ouviu com a mesma frequência o mesmo ditado falando da mãe? Certamente não, e isso porque a mãe, diferente do pai, é obrigada a amar e criar porque pariu, como assim não amar um ser que saiu de dentro dela?
Muitas vezes vamos encontrar esse amor maternal, que pra mim nada mais é que um amor regado a muita vontade de cuidar e proteger, em amigos, tias, colegas de profissão ou qualquer pessoa que cruze nosso caminho, e não necessariamente será um amor vindo de parentes, pessoas que nos criaram nem mesmo com idade para serem nossas mães.
Se você assim como eu, vai economizar no presente nesse domingo porque não tem mãe, ao menos não aquela que te pariu, pense nas pessoas que te rodeiam, independente de idade, gênero, parentesco, se te conhece desde que era aquela criança ranhenta ou não, e avalie se você realmente é “órfão”, às vezes esquecemos de olhar para quem está ao nosso lado, cegos pela sociedade que nos impõe sermos apenas filhos da mãe que nos pariu.