Em menos de dez minutos rolando o feed de qualquer rede social, você provavelmente vai ver algum vídeo ou post em que uma garota é entrevistada na rua e conta sua profissão: “Eu sou do Job”. Esse termo ficou popular recentemente para denominar nossa profissão como trabalhadores sexuais, sejam virtuais ou presenciais. Cá entre nós, na minha humilde opinião, criar apelidos com palavras que fogem um pouco do que realmente fazemos é uma forma, talvez, de demonstrar certa dificuldade em aceitar a própria profissão – quase um auto preconceito. E, sinceramente, eu não julgo. Já estive nesse time, numa época em que a palavra “prostituta” me ofendia e não me representava. Parecia algo que me rebaixava. Mas tudo a seu tempo.
Contudo, há certos perigos nessa popularização da minha profissão. Isso porque só se propagam informações limitadas – a história completa não é contada. Então, vem que eu te conto.
Vida fácil? Não existe
Esse é outro termo antigo, mas que não caiu em desuso e, ao meu ver, veio de mãos dadas com o “Job”. Te explico por quê: enquanto você e várias outras pessoas assistem, geralmente, a mulheres jovens relatando que ganham mais de 100 mil por mês no “Job”, muitas outras mulheres pensam: “E se eu também fizesse? Não deve ser tão difícil”. Quem nunca ouviu uma amiga dizer, ainda que na brincadeira, algo como “Se tudo der errado, a gente vende foto do pé e fica rica”? E, no Brasil, quando algo vira meme, sabemos que todo mundo já está sabendo. Mas precisamos da informação completa.
Perrengues nada chiques
Aquela blogueira que você acompanha, que vive viajando, ostentando grifes, luxos e tudo o que você sonha, saiba que a vida de alguém não se resume ao que ela posta. As pessoas selecionam o puro suco da felicidade para expor – o bagaço, que ninguém dá like, fica escondido. Não se compare.
Na nossa profissão, não tem perrengue chique. É perrengue mesmo. Você vai enfrentar clientes que não sabem o que é um banho, vai ter que trabalhar muitas vezes se sentindo doente ou deprimida, correr alguns riscos e nem sempre fará só o que gosta. Coisas de qualquer trabalho, né? Inclusive deste – porém, um pouco mais difícil, porque envolve intimidade.
Não se compare
Essa frase já é um clichê, mas um clichê que quase ninguém usa. E, quando digo “não se compare”, não é só fisicamente – nós, mulheres, sabemos que fazemos isso quase que inevitavelmente. Mas, no caso das profissionais do sexo, não se compare em relação a quanto você ganha em relação a uma colega, aos clientes que ela tem e você não, às viagens que ela faz, ao que ela veste. Até porque talvez alguém esteja olhando para você e fazendo o mesmo – e você sabe que sua vida não é nenhuma perfeição, porque isso simplesmente não existe.
Ser acompanhante é uma profissão que, muitas vezes, faz parecer que o sucesso que você tem é proporcional à sua beleza e performance. E isso é o que mais nós, mulheres, somos cobradas a ser: sempre mais do que conseguimos ser. Mas sucesso é a combinação de muitas coisas, não só aparência – inclusive para ser uma profissional do sexo. Adicione a essa receita inteligência, estratégia, planejamento e muita saúde mental, entre outras coisas.
Tem parte boa? Claro! Se não, ninguém faria
Vai contra o instinto humano se colocar constantemente em situações totalmente desfavoráveis. Se está tão popular e tanta gente está entrando no mercado adulto, é porque, de fato, ele oferece benefícios. Independência financeira, possibilidade de administrar sua vida com mais autonomia (o famoso “ser seu próprio chefe”), conquistar sonhos e tudo o que o dinheiro pode comprar. Além disso, há algo que poucas pessoas falam: muitas mulheres se sentem valorizadas como mulheres. Eu mesma sou muito bem tratada pelos meus clientes – muitos são mais românticos e atenciosos do que qualquer namorado que já tive. Mas absolutamente nada na vida é uma coisa só.
Este texto não tem o intuito de dizer que ser profissional do sexo é algo ruim – ou até mesmo ser “do Job”, ou qualquer outro termo que você prefira chamar. A intenção aqui é chamar atenção para aquilo que só mostra um lado da moeda. Toda perspectiva que parece positiva demais, bonita demais, fácil demais, não é real. Não existe trabalho perfeito em que você enriquece em 30 dias sem prejuízo algum.
Então, antes de tomar suas decisões, pesquise. Descubra além do que um story te mostra, para então decidir o que você quer ser quando crescer e evitar tombos e decepções desnecessárias.
Deixe nos comentários a sua opinião e quando foi a primeira vez que viu o termo Job ser utilizado para o trabalho sexual.
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