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Entenda por que profissionais do sexo se aposentam cedo

Entenda por que profissionais do sexo se aposentam cedo

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Redação josef.santos

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Tá, mas você tá se organizando, né? Porque essa profissão, você sabe, dura pouco.” Essa é a frase que eu e todo mundo que trabalha com sexo mais escuta. Mas sempre que ela é dita — sim, arrisco dizer SEMPRE — é pensando que o que torna essa profissão curta é o corpo, principalmente o da mulher, que com o tempo perde valor de mercado, perde utilidade e deixa de ser alvo de desejo daqueles dispostos a pagar. E isso tudo considerando alguém que recém chegou aos 30 anos.

Mas essas pessoas não estão de todo erradas. De fato, eu concordo que ser acompanhante é uma profissão difícil de manter por muito tempo, porém nada tem a ver com aparência ou idade, mas com saúde mental. E engana-se quem está agora achando que essa saúde mental se esvai com clientes violentos ou porque nos sentimos usadas por eles. Isso acontece principalmente por conta daqueles que sequer chegamos a atender. É fruto do tempo e da paciência que perdemos lidando com homens que nos chamam com a triste intenção de destilar ofensa, ódio e um palavreado grosseiro, que nos julgam merecedoras.

Existe uma crença moralista enraizada na nossa sociedade de que a mulher que é dona da sua sexualidade, do seu prazer e que, no “pior” dos caminhos, optou por ganhar dinheiro com isso, não passa de alguém totalmente sem valor. (Algo bem contraditório, já que você se valoriza a ponto de monetizar o que poderia ser de graça.) A mulher já é comumente inferiorizada por muitos homens que se julgam superiores; se ela for uma trabalhadora sexual, então, parece que o último filtro social que o impedia de tratá-la como lixo cai por terra.

E assim surgem pessoas repletas de traumas e necessidades, desesperadas para se sentirem um pouco menos insignificantes dentro dos seus próprios pensamentos. Elas buscam as pessoas que a sociedade mais julga, apedreja e condena: as profissionais do sexo, mulheres que já estão condenadas ao inferno. Logo, qualquer um facilmente se sentiria superior a elas, aliviando, com um comparativo de valor forjado em preconceito, a sensação de inferioridade que aqueles que as procuram possuem.

É verdade também que muitas de nós, infelizmente, aceitam esse tipo de comportamento de um cliente — ser tratada sem respeito, gentileza ou o mínimo de humanidade. Mas isso se dá pela própria crença de desvalor da mulher. Não pense que quem vive essa profissão é livre de preconceitos. Na verdade, o autodesprezo é o mais dolorido de se viver, pois é ele que delimita, ou melhor, que permite que os outros te tratem como bem quiserem.

A mulher dificilmente é ensinada sobre limites, sobre consentimento, independente da profissão ou das escolhas que faça. Logo, acompanhante ou não, perceber relações abusivas e impor respeito é difícil para todas nós. Pense, então, naquelas que já estão numa profissão naturalmente vista como imoral e que ainda precisam buscar o próprio sustento. É assim que muitas de nós passam a aceitar ser tratadas como uma peça de carne pendurada num açougue.

A maioria dos clientes que eu atendo, hoje e num passado recente, sempre me tratou melhor do que alguns tratam a própria esposa. Mas isso aconteceu porque eu entendi como deveria e gostaria de ser tratada. Aqueles que não fazem jus nem ao senso de humanidade, em sua maioria, nem procuram de fato um atendimento, mas a sensação de poder humilhar alguém estando seguros atrás de uma tela. Tanto que, pessoalmente, a maioria dos clientes de toda acompanhante é extremamente submissa, tanto física quanto psicologicamente.

Portanto, quando você pensar ou ouvir por aí que ser profissional do sexo deve ser algo muito difícil, saiba que realmente é, mas não porque transamos com estranhos. Arrisco dizer que essa é a melhor parte; afinal, é prazer, ou pelo menos deveria ser. Difícil mesmo é precisar lembrar todos os dias, para os outros e para nós mesmas, que nós também somos pessoas e devemos ser tratadas como tal — algo que já deveria ser um direito inato, independente das nossas escolhas.


Você acredita que a sociedade está pronta para enxergar os profissionais do sexo com o respeito e a dignidade que toda profissão merece? Deixe nos comentários!

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