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Porque eu me tornei acompanhante

Porque eu me tornei acompanhante

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Redação josef.santos

3 minutos de leitura

Todo mundo se pergunta o motivo que leva alguém a trabalhar com sexo, nesse autoquestionamento que quase sempre é guiado pelos preconceitos sociais, as pessoas tendem a imaginar que começamos nessa profissão SEMPRE por falta de grana, desespero, falta de opção, família desestruturada, abusos, até falta de pai. E de fato muitos de nós vivemos tudo isso, mas não quer dizer que sejam as únicas possibilidades dentro da realidade. Hoje vou te contar porque eu comecei a ser acompanhante, quem eu era, e porque essa profissão sempre me fascinou.

Poderosas!

Quando eu era criança, sentava no banco que ficava próximo à janela no ônibus e ficava observando as mulheres nas esquinas quando passava pela rua mais famosa pela prostituição em Porto Alegre. Eu ficava muito curiosa sobre como era a vida dessas mulheres, que eu enxergava como poderosas, donas de si, fodonas mesmo, ainda que elas talvez não se sentissem assim, era como eu as via, mulheres que de tão incríveis eram pagas para dar aos homens o que eles podiam ter de graça com outras, mas com elas, com elas devia ser tão incrível que eles pagavam Assim eu enxergava a profissional do sexo, e também queria sentir a mesma sensação, que não era só sobre ser sexualmente desejada, mas ser apreciada de todas as formas.

Do abuso ao Empoderamento

Já ouvi dizerem que toda mulher que trabalha com sexo viveu algum tipo de abuso, mas o que as pessoas não levam em conta é que quase todas as mulheres já foram abusadas de alguma forma, se isso fosse regra para nos tornarmos acompanhantes, não teríamos mais mulheres em outras profissões. No meu caso, fui mais uma vítima disso, e por alguém que era próximo da família e dizia me amar, então acabei relacionando qualquer ato ou prazer sexual com alguém que tivesse afeto por mim, com o ato do abuso, automatizei esse processo na minha mente: homem que me ama ⇾ me fez sentir prazer ⇾ abusador ⇾ é errado sentir prazer. Por isso me relacionar com pessoas que eu tivesse intimidade, afeto ou qualquer sentimento, se tornou algo que me causava ou sofrimento, ou absolutamente nada, logo, ficar com um total estranho era mais fácil e começou a se tornar prazeroso, então, por que não cobrar e já ganhar um dinheiro com isso?

No controle e no poder

Para muitas acompanhantes, talvez para maioria, o primeiro cliente foi quase traumático, uma situação de medo, vulnerabilidade, de se sentir até objeto. Para mim foi uma experiência incrível a ponto de eu ter tido o primeiro orgasmo da minha vida, depois de já ter vivido 5 anos de sexualidade ativa. Lembro que meu sentimento era de poder, de dominância e controle da situação, uma injeção de adrenalina e autoestima que eu nunca havia experimentado. Um homem pagando para estar comigo, tamanha era a sua vontade de viver aquilo. Para mim foi o auge, e descobri o tanto que eu gostava daquela sensação, que nunca foi de submissão ou fragilidade, nunca senti que eu estava ali para servir ou agradar, na verdade, era exatamente o oposto, e assim eu era tratada na maioria das vezes inclusive.

A zona de conforto da falta de intimidade

Hoje, depois de muita terapia, entendi o motivo de eu me sentir sempre tão à vontade com um cliente, mas tão desconfortável com um parceiro na vida pessoal: a intimidade. Com um cliente não tenho medo de ser vista, julgada, reprimida ou recusada apenas por ser quem eu sou, é exatamente o que eles sentem também ao nos procurarem. Intimidade é algo muito gostoso e saudável, mas para muitos também pode ser desconfortável e trazer à tona vulnerabilidades difíceis de confrontar, com um estranho não há esse peso, logo, você relaxa, e relaxando se torna muito mais fácil sentir prazer.

Ser acompanhante me empoderou como mulher, me ensinou a querer mais que o mínimo de um homem, para mim que sempre achei que alguém segurar minha mão em público era o auge do amor ou cavalheirismo, hoje vejo o quanto isso é básico, mas nós mulheres infelizmente tendemos a achar que o básico é tudo que merecemos.

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