>
>
Profissões confundidas com trabalho sexual

Profissões confundidas com trabalho sexual

Neste artigo, exploramos a problemática das profissões que frequentemente são confundidas com trabalho sexual. Muitas vezes, profissionais do sexo que não exercem a profissão de forma pública são levados a esconder sua verdadeira ocupação devido ao estigma e ao preconceito social. Modelos, massagistas e promotores de eventos são algumas das profissões que são frequentemente equivocadamente associadas ao trabalho sexual.
Foto de Redação josef.santos

Redação josef.santos

4 minutos de leitura

É muito comum que profissionais do sexo, que não exercem a profissão de forma pública, digam que fazem outra coisa quando são questionados sobre o que fazem para viver. A sociedade, por sua vez, acaba criando quase que um folclore em torno do trabalho sexual e determinadas profissões

Modelos, massagistas e promotores de eventos são a tríade de profissões clássicas usadas como desculpa ou até mesmo como sinônimo do trabalho sexual. Já parou para pensar em quanto isso prejudica quem de fato exerce essas funções?

Te convido a refletir sobre algumas questões que muitas vezes passam despercebidas pelo olhar cansado da sociedade. Que tipo de dano isso causa a cada profissional? E como chegamos ao ponto de achar que essas profissões são todas iguais?

Autopreconceito

Que nós somos terrivelmente julgados pela nossa escolha profissional todos estão carecas de saber, mas e quando esse julgamento, preconceito e não aceitação parte de nós mesmos? Isso é bastante comum, especialmente devido a crenças familiares, religiosas e sociais. Muitas vezes, nos sentimos inferiores, sujos e até pecadores por causa da nossa profissão. 

Tentamos mascarar isso atribuindo algum glamour ou seriedade ao nosso trabalho, que não acreditamos que ele já tenha. É uma tentativa de sermos levados a sério, ganhar credibilidade e até mesmo alcançar um status social mais elevado. Para isso, alguns profissionais preferem intencionalmente dizer que fazem outra coisa. 

Por exemplo, uma acompanhante que busca se apresentar como profissional de outros ramos pode sentir que está em um trabalho mais “respeitável”, o que destaca um preconceito e um estigma social de que o trabalho sexual não é, de fato, um trabalho.

Acompanhante é modelo?

Quase todo mundo já ouviu falar do famigerado “Book rosa”, a lista super exclusiva de modelos que prestam serviços sexuais. Se isso de fato existe em agências de modelos, eu não sei, mas tornou-se tão popular que muitas modelos passaram a sofrer com esse preconceito. 

Segundo o site InfoEscola, “Modelo é todo profissional que cede sua imagem para apresentar um produto (uma ideia, uma roupa, um serviço, etc.). Alguns trabalham ao vivo, como em feiras de automóveis, desfiles e, em alguns casos, posando para artistas plásticos.” Ou seja, não há envolvimento com trabalho sexual, simplesmente porque uma coisa não tem nada a ver com a outra. 

Perguntei à Jessica Tourinho, 27 anos, de Salvador, promotora de eventos, por que ela acha que as pessoas fazem essa confusão. Ela diz que: “Isso vem de uma cultura misógina que vê a mulher como produto, independentemente do cargo que ela ocupe. Como modelo/promotora de eventos também usa a sua imagem, a nossa sociedade vê isso como permissividade, como um convite. Sem saber que a nossa aparência também é potência.”

Promotora de eventos só promove eventos

Parece tão óbvio, não é mesmo? No entanto, muitas mulheres que são promotoras já passaram por situações extremamente constrangedoras e abusivas devido a essa “semelhança” criada pelo senso comum, e infelizmente, pelas próprias acompanhantes. 

Jéssica me contou ainda sobre uma situação que enfrentou durante uma convenção nacional em que trabalhou: “Minha função era fazer cadastros. Quando abordei um grupo de uns 6 rapazes, um deles começou a fazer piadas, falando da minha aparência de forma sexualizada e perguntando quanto eu cobrava por hora, enquanto os outros riam. Eu não voltei a fazer a mesma função, e com eles nada aconteceu.” 

Você consegue ver como essa confusão em associar o trabalho sexual a outras profissões causa prejuízo? Claro que não estou dizendo que os rapazes não têm culpa; pelo contrário, provavelmente eles agiriam assim em qualquer cenário. No entanto, há situações em que um pai ou mãe, não permitiria que a filha menor de idade tentasse ingressar em determinadas carreiras devido ao preconceito e ao medo de que ela sofra abusos, e, às vezes, ela mesma desiste por causa disso.

“A massagem tem final feliz?”

Como diz uma amiga minha, “nunca vi alguém sair triste daqui”. Se esse é o “final feliz” que se refere, então está incluso. Talvez as que mais sofrem preconceito sejam as massagistas, já que muitas casas de massagem eram, e ainda são, um disfarce para casas de prostituição. 

Evelin Malafaia, massoterapeuta de 33 anos de São Paulo, conta que encontrou em sua profissão seu propósito de vida, aliviando dores físicas e emocionais de pessoas preocupadas com seu bem-estar. Os homens tendem a achar que toda e qualquer massagem inclui o tal “final feliz” (pra quem não sabe, que eu duvido, é a masturbação até chegar ao orgasmo). Evelin conta que é frequentemente procurada por clientes que desejam esse tipo de massagem. 

Segundo o Senac, “O massagista é o profissional que realiza massagens baseadas em técnicas ocidentais, considerando aspectos anatômicos, fisiopatológicos e biomecânicos essenciais, com o objetivo de contribuir para a promoção e manutenção da saúde e do bem-estar.” Ou seja, de novo, não tem nada a ver com sexo. Aliás, há uma diferença entre massagista e massoterapeuta; esta última tem mais conhecimento técnico.

Se trabalha com o corpo, é prostituição?

Cada profissão é única, com funções completamente diferentes, com seus ônus e bônus. É importante que saibamos diferenciá-las, pois não é justo que uma sofra as consequências da outra, como se estivéssemos pagando por uma conta que não fizemos. Infelizmente, nós, profissionais do sexo, ainda precisamos levar vidas duplas, com identidades e profissões falsas para não sermos rechaçados pela sociedade.


E essa sociedade ainda decide arbitrariamente quem se encaixa em cada categoria, quem deve ser julgado e qual trabalho deve ser demonizado. Basta uma mulher trabalhar com sua imagem que será associada ao sexo, que chegou ali porque “deu pra alguém”, nunca foi mérito, envolveu beleza, uso da aparência ou do corpo, somos todas putas, e isso no sentido mais pejorativo que a sociedade conseguir dar. Como seria bom um mundo em que cada um cuidasse da sua vida e respeitasse a do outro…

Leia mais da Colunista Paula Assunção:

https://fatalprod.josef.com.br/blogcolunistas/medidas-de-seguranca-do-fatal-model-para-que-servem/
https://fatalprod.josef.com.br/blogcolunistas/somos-pais-filhos-e-acompanhantes/

Filtre por título

Compartilhe este artigo:

Assine nossa newsletter
para receber mais conteúdo