Aproveitando que estamos no mês dos namorados, achei interessante falar sobre relacionamento entre acompanhantes e clientes, afinal considero esta relação a mais transparente que existe. As acompanhantes sabem que os clientes querem apenas prazer e eles sabem que o outro lado quer dinheiro em troca. Simples assim. Um sabe das intenções do outro, sem precisar fingir que existe algum tipo de sentimento para uni-los nus na cama.
Mas é preciso pegar sem se apegar porque teoricamente ninguém pode ficar emocionado e se apaixonar no meio do caminho ou do programa. A maioria dos clientes é casado ou está vivendo algum compromisso e eu não estou aqui para discutir ou julgar sobre o que buscam com uma acompanhante.
E quando a química e as afinidades batem com força nesta relação? É difícil controlar as emoções por ambas as partes. E sim, a paixão pode surgir entre uma visita sexual e outra. Como aconteceu comigo e tantas outras pessoas que já me mandaram mensagens contando sobre isso. E eu amo receber mensagens especialmente de homens que me contam sobre ter escolhido viver uma paixão por alguma acompanhante.
Diante de tantos homens e tipos de experiências sexuais que a acompanhante encara no dia a dia, se ela te escolheu para viver mais do que isso, buscando por um relacionamento real e sólido, pode se considerar especial. Ela jamais será capaz de escolher qualquer um para entregar mais do que o corpo, a alma.
Trabalhei com muitas mulheres casadas e que os respectivos maridos nem sonhavam que elas se prostituíam e compreendo a decisão de esconderem esta vida dupla, afinal os homens escondem as amantes quando as têm. É muito difícil saber como será a reação do outro neste tipo de traição. Mas também conheci mulheres que se casaram com algum ex cliente, pararam de fazer programa ao escolher ser feliz com quem um dia a escolheu para ter apenas sexo casual.
Iniciei 2005 já sabendo que seria o meu último ano na prostituição. Nem imaginava me apaixonar por um cliente logo em janeiro, não estava pensando em viver um relacionamento tão cedo quando minha prioridade era bater minha meta financeira.
Mas aconteceu e deixei fluir. Após sete programas, decidimos em conjunto que éramos mais do que uma relação de cliente com acompanhante e que nossas intenções eram mais do que estes encontros sexuais e semanais. Começamos a namorar alguns dias após isso, ele foi morar comigo e vivemos uma história bonita que durou dez anos. Não me arrependo, ainda mais porque ele respeitou o meu tempo, sem querer interferir no meu objetivo financeiro, depois que começamos a morar juntos, me prostituí por quase cinco meses até me aposentar e ele me esperou.
Já recebi algumas mensagens de homens desabafando por estarem apaixonados por alguma acompanhante e me pedindo conselhos e eu digo: “Só vai e viva essa história de amor se ela também quiser!!”.
É um tipo de relação ainda muito julgada pela sociedade porque são poucos os que entendem como um homem tem coragem de assumir uma acompanhante. E essas mesmas pessoas não julgam ou fingem que não enxergam os vários relacionamentos rasos que existem entre mulheres que pagam de santas, mas que casam sem amor, apenas por interesse financeiro. E eu sempre considerarei estas mulheres como acompanhantes de um homem só.
Imagino que não deve ser fácil para um homem assumir uma acompanhante, mas para elas também é difícil manter a rotina trabalhando com sexo ao mesmo tempo que amam alguém. A cabeça vira uma bagunça de sentimentos e vontades.
Se você está passando por isso, não tenha medo de se entregar. A chance de dar certo é muito maior do que fracassar. O meu relacionamento acabou porque nossa diferença de idade ( eu com 30 na época e ele com 40 ) começou a pesar por termos planos diferentes e não conseguimos mais caminhar juntos, mas continuamos amigos até hoje.
Enfim, desejo vida longa aos namorados que se conheceram na prostituição!!! Viva o amor independentemente de como ou de onde começou!!!
Sobre a autora
Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha, é escritora e ex-acompanhante. Desde maio de 2023, escreve contos duas vezes por mês para o Fatal Blog.
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